Lupo, a máscara da pandemia
Muitas empresas também fabricaram máscaras. Milhares de empresas de todos os portes e especializações saíram, no desespero, e tentando dar uma contribuição ao país, fazendo máscaras. Mas quando a Lupo, uma empresa centenária, premida pelas circunstâncias, teve de socorrer seus funcionários e parentes, e improvisar as primeiras máscaras, e colocar sua marca, nascia ali aquela que acabaria por se converter numa das máscaras da pandemia. Sob o comando de Liliana Aufiero há duas décadas, a Lupo completou, meses atrás, 100 anos em plena pandemia. Fundada em 1921, por seu avô Henrique Lupo.
De certa forma, sem nenhum planejamento, e muito menos desejar, a Lupo protagonizou uma espécie de epifania logo no início da pandemia. Toca o telefone de Liliana e é da Santa Casa da cidade de Araraquara, a base da Lupo. Precisavam de máscaras para os atendentes, não tinham onde comprar, e o preço nas alturas. Liliana respondeu: “A Lupo não faz máscaras, mas, por favor, manda uma pra eu ver...”. Em poucas semanas a Lupo produzia 250 mil máscaras por dia.
E no canto baixo, à direita de quem usa, a logomarca da empresa. A Lupo, por linhas tortas e indesejadas, acabou por se converter numa das máscaras da pandemia. No meu círculo de relacionamento, sete em cada 10 pessoas usam a máscara da Lupo. Em entrevista à Folha, à jornalista Joana Cunha, Liliana conta sobre essa espécie de epifania que a Lupo viveu...
“Quando recebi a máscara da Santa Casa percebi que o tecido era o TNT e eu não tinha no estoque porque não faz parte de nossos produtos. Conseguimos numa loja um pouco daquele tecido. Nosso time é criativo, fomos dobrando, moldando, criamos a máquina, desmancha uma máquina, junta com um pedaço de outra... Seguimos pesquisando... Vimos que tinha um elástico com tripla camada aprovado pela Anvisa, fabricamos elásticos, e a produção disparou... nada planejado...”. E concluiu: “Aconteceu. Passamos a produzir 250 mil máscaras/dia e tinha fila de espera até o mês de junho... Mas tudo o que eu mais gostaria é que acabasse a pandemia e a Lupo não precisasse mais produzir máscaras...”.
É isso, amigos. Vez por outra a oportunidade bate a nossa porta. Milton Berle recomendou a todos aqueles que, se a oportunidade ainda não bateu na porta, o seguinte: “Se a oportunidade não bater, construa uma porta”. No caso da Lupo, a oportunidade, mais que bater, invadiu a Lupo diante do grito de socorro da Santa Casa, de milhares de instituições de saúde, e de milhões de brasileiros. A Lupo nem teve tempo de pensar. E, mesmo referindo-se as suas competências, a empresa centenária não parou um único segundo para saber se deveria ou não.
Liliana Aufiero, em meio às comemorações dos 100 anos da empresa fundada por seu avô, fez o que recomendou o nosso adorado mestre e mentor Peter Drucker. “Se o navio começa a afundar, o comandante não convoca uma reunião, decide”. Em situações de emergência como a que vivemos, as verdadeiras lideranças, mais que em qualquer outro momento, precisam protagonizar.
Essa é a tragédia da pandemia em nosso país. As lamentáveis lideranças políticas que temos passaram a brigar entre si, a disputar espaço, com todos os olhos voltados para as próximas eleições. Esqueceram-se de quem os elegeu. Todos, com raríssimas exceções, prefeitos, governadores e presidente, mais deputados, senadores e ainda a lamentável Justiça brasileira, cometeram o grave crime da omissão.
E é exatamente aí que prevalece o Barão de Itararé, “de onde menos se espera é que não sai nada, nunca...”.
Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing - famadia@madiamm.com.br