Marcas e consumidores: uma relação mais consciente
Uma das principais preocupações dos estrategistas de marcas é interpretar tendências e se antecipar para evitar desconexão com seus consumidores. Tive acesso a um estudo internacional da Mintel, que pode ajudar esse entendimento.
Trata-se do ‘Global Consumer Trends 2024’, que traz insights interessantes para nortear nossa estratégia. São 5 os macroinsights estabelecidos pelo estudo: #1- Being human (Sendo humano), #2- More than money (Mais do que dinheiro), #3- Relationship renaissance (Renascimento do relacionamento), #4- New green reality (Nova realidade “verde”) e #5- Positive perspectives (Perspectivas positivas).
Com relação ao Insight #1 (Being human), o estudo justifica: Num mundo cada vez mais dominado por algoritmos, precisaremos de habilidades humanas e emoção para aproveitar ao máximo essa revolução tecnológica.
E complementa: Temos acompanhado um avanço avassalador da tecnologia e da IA, com a inovação mudando o jogo tornando a vida e o trabalho mais eficientes. A tecnologia permite que os consumidores automatizem tarefas repetitivas, liberando tempo para atividades mais significativas.
Enquanto as empresas buscam equilibrar o uso desta tecnologia, os consumidores começarão a apreciar o que torna os humanos tão únicos - emoções, empatia, criatividade, ideias e o desejo de se conectar com seres humanos.
Para encontrar um equilíbrio entre progresso e preservação, marcas e consumidores vão cada vez mais procurar elementos exclusivamente humanos como um contraste aos algoritmos sem rosto.
Insight #2 (More than money): Os consumidores reavaliarão o que importa mais para eles, afetando não apenas o que eles querem e precisam, mas sua percepção do que constitui valor. Tradicionalmente, o valor tem sido definido como a relação entre qualidade/preço.
Os consumidores têm cada vez mais discernimento sobre o que indica “qualidade” em um produto ou serviço. Eles estão se tornando mais realistas e conscientes. Critérios de sustentabilidade devem ser conjugados com conveniência e qualidade para uma percepção mais clara de valor.
Insight #3 (Relationship renaissance): Consumidores que encontram conforto através de telas, em detrimento de relacionamentos significativos e da vida real, buscarão novas formas de intimidade em prol de sua saúde física e mental.
Embora os consumidores tenham mais acesso às ferramentas de comunicação do que nunca, o ambiente inóspito das mídias sociais e a overdose online geraram estresse e esgotamento. Um agravante é o trabalho remoto.
Cada vez mais, está se criando uma rede fragmentada de relacionamentos que é difícil de construir e manter. Como resultado, tanto o público como as empresas estão buscando sair de relações passivas para ativas.
Insight #4 (New green reality): Incorporar a sustentabilidade no dia a dia não é suficiente; consumidores e marcas serão confrontados com a realidade de que a sobrevivência num novo contexto climático deve ser a prioridade.
Os consumidores enfrentam a realidade de uma ameaça climática real, que exige uma abordagem radical e colaborativa. Uma abordagem passiva não é suficiente para enfrentar desafios ambientais. Sustentabilidade não pode mais ser um mero argumento de venda, mas deve ser visto como um elemento essencial de sobrevivência.
Insight #5 (Positive perspectives): Marcas e consumidores trabalharão juntos em novas maneiras de lidar com a incerteza. A incerteza é a única certeza que existe. A inflação e a instabilidade política vão continuar a alimentar a incerteza global, enquanto preocupações com as mudanças climáticas estarão no topo das preocupações dos consumidores. IA é uma nova camada de incerteza, com o medo da ameaça de empregos.
Em vez de resistir ao impacto de múltiplas fontes de incerteza, marcas precisam adotar uma abordagem mais honesta, apresentando produtos e serviços conscientes, com ações que ajudam os consumidores a se sentirem mais fundamentados, tranquilos e capazes de lidar com a incerteza.
Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4