Marketing e medo apenas começam com a mesma letra...

Marketing é vida. Liberdade de se manifestar e empreender, é oxigênio, criatividade, inovação, economia de mercado, liberdade individual, espontaneidade, crescimento, prosperidade, inclusão, amor. Marketing é vida. Assim, e na medida em que encerramos este ano de 2022 com medo, como dizia e nos ensinou Carlos Drummond de Andrade, em sua poesia antológica e monumental: “Provisoriamente não cantaremos o amor...”, o marketing ingressa em 2023 envergonhado, constrangido, triste, mudo e calado, preparando-se e se planejando para quando a luz retornar.

De repente, e no principal tribunal de Justiça do país, um único dos magistrados, com a conivência ou omissão dos dez demais, converteu-se num tirano, déspota, ditador. E, para a indignação da maioria da comunidade jurídica do país, vem cometendo as maiores barbaridades. E descobrimos, parvos e atarantados, que, na nossa débil e precária democracia, não temos nenhum mecanismo que impeça esse tipo de comportamento, arbitrariedade, desatino, desrespeito, humilhação. Um único magistrado coloca 200 e poucos milhões de cidadãos brasileiros de cócoras.

O ano era 1940. A Segunda Guerra avançando. Carlos Drummond de Andrade decide publicar um novo livro de poesias. Sentimento do Mundo. E nesse livro, uma de suas poesias monumentais, Congresso Internacional do Medo. Dizia Drummond: “Provisoriamente não cantaremos o amor, que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos. Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços, não cantaremos o ódio, porque este não existe, existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro, o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos, o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas, cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas, cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte. Depois morreremos de medo e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas...” É isso, amigos. Neste último artigo de 2022, não poderia deixar de registrar minha indignação, tristeza, desconforto, incomodo, por este momento de constrangimento, vergonha e humilhação a que estamos sendo submetidos.

Mas, e apenas esse registro, é insuficiente. Uma vez mais comprometo-me com todos vocês que me acompanham nesta que é a mais longeva das colunas de marketing em todo o mundo – 52 anos – continuar em defesa e disseminação de um marketing de excepcional qualidade, a arregaçar mais ainda as mangas, e me somar a todos aqueles que mais que acreditar constatam, todos os dias, que o mundo velho acabou, que a disrupção tecnológica traz a todos nós uma oportunidade excepcional de construirmos, finalmente, um Brasil moderno e verdadeiramente democrático e justo. E é ao que pretendo dedicar os anos de vida que me restam.

E ficaria mais à vontade e confiante, se merecesse a sua inestimável e querida companhia. É isso. Nizan Guanaes, membro da Academia Brasileira de Marketing, repetindo um escritor inglês do século 19, dizia: “Enquanto eles choram, eu vendo lenços”. Já nosso adorado mestre e mentor, criador da administração moderna e de sua ideologia, o marketing, Peter Drucker, não cansava de aconselhar a todos os seus leitores, clientes de consultoria, alunos e seguidores, que a primeira coisa a se fazer quando começava a chover era correr e pegar uma bacia...

Isso posto, que cada um faça a que julgar a melhor escolha. Eu vou comprar lenços do Nizan, colocar todas as bacias possíveis e imagináveis para me abastecer de água e energia para a dura jornada que temos pela frente, arregaçar as mangas ao máximo, e já, a partir do próximo dia 1º, somar-me a todos vocês, queridos amigos e leitores, na luta santa para a construção de um novo e moderno Brasil. Livre, democrático, inclusivo, justo. Vamos nessa? Feliz Ano Novo!

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing
famadia@madiamm.com.br