Musk, ESG e indústria
Elon Musk foi uma das principais atrações desse Cannes Lions 2024. Trazido pelo WPP, o polêmico empresário respondeu perguntas do CEO da holding, Mark Reed, não titubeou em questões delicadas como ter mais assinantes na plataforma X, ex-Twitter, do que ter anúncios para financiar a empresa. No ano passado, a publicidade caiu 50% no X.
“Os anunciantes têm o direito de aparecer ao lado do conteúdo que considerem adequado à sua marca. Isso é totalmente legal. O que não é legal é insistir que não pode haver nenhum conteúdo do qual eles discordem na plataforma”, disse Musk. “Se houver [uma escolha entre] censura e dinheiro ou liberdade de expressão e perder dinheiro, optaremos pela segunda… essa foi a decisão moral correta.”
Sua mensagem para os anunciantes que abandonaram completamente o X – incluindo Disney, IBM e Apple – é que “vale a pena experimentar a plataforma” porque seus usuários são “as pessoas mais influentes do mundo”. Musk sendo Musk.
Continuando a imersão no que aconteceu nesta quarta-feira (19) em Cannes.
Gosto muito do conceito que o Cannes Lions define o ecossistema de marketing e publicidade: indústria. Perfeito! Porque essa indústria gera empregos e contribui para o fomento de riquezas palpáveis em todo o mundo.
Um dos pilares dessa indústria são os anunciantes. E Cannes coloca o holofote nesse ator, elegendo pela segunda vez (a primeira foi em 2010) na história a Unilever como Creative Marketer of the Year nesta 71ª edição do festival.
Bem, a riquíssima história da Unilever é uma inspiração para essa indústria. Quem não lembra da campanha “Retratos da Real Beleza” que garantiu Grand Prix à empresa? Uma publicidade disruptiva e inovadora que rompeu paradigmas e virou benchmark para todos os segmentos econômicos que entenderam que as imagens construídas artificialmente funcionavam apenas em uma bolha restritiva e irrespirável.
A ABA fica orgulhosa de ver sua associada Unilever nesse degrau que reconhece a consistência da sua comunicação e dos profissionais, globalmente falando, e no Brasil.
A AB Inbev também brilha mais uma vez no Cannes Lions. E, também, é com orgulho, que ouvimos o CMO global da multinacional, o brasileiro Marcel Marcondes, falar de um faturamento de US$ 60 bilhões, o maior da história da empresa que teve início no mercado brasileiro.
As marcas da AB Inbev brilham no Cannes Lions em quase todas as categorias. Mas destaco o trabalho “Uninterruptad” Feito em conjunto com a Africa Creative, em torno da estatística de que cerca de 60% dos 500 milhões de assinantes mensais do Spotify em 2023 usavam sua versão suportada por anúncios.
Budweiser e a Africa Creative descobriram que mais de 500 músicas no Spotify mencionam o nome da marca em suas letras.
Com esse insight, a empresa lançou a campanha “UninterruptAd”, que utiliza faixas que mencionam a Budweiser como anúncios estrategicamente posicionados. Incrível!
A simbiose entre marca e agência propicia esse tipo de publicidade que agrega a audiência de forma orgânica à voz mercadológica com valores disruptivos.
O Boticário não fica atrás. Está no Cannes Lions com vários cases iluminados e que chamam a atenção. Mas vou me ater ao projeto “Extinto”, que concorreu em Design Lions, criação da AlmapBBDO. Uma aula de antropologia e com um Craft maravilhoso.
A ideia de O Boticário foi alertar a população sobre a importância da preservação do meio ambiente e da gestão de resíduos sólidos. A fragrância reproduz o cheiro original da Baía de Guanabara, que recebe 98 toneladas de lixo por dia - segundo a Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais).
“O Projeto Extinto parte de um conceito que defendemos em todas as nossas ações e comunicações: só existe beleza, se existir planeta. E o risco de que a Baía de Guanabara não se regenere por conta da poluição e geração de resíduos é real - e assustador. Por isso, queremos aproveitar nosso alcance, capilaridade e relação próxima com os nossos consumidores para dar cada vez mais visibilidade a temas relevantes para a agenda de ESG, reforçando o compromisso e papel da marca como agente transformador dessa realidade”, defende Marcela de Masi, diretora-executiva de branding e comunicação do Grupo Boticário.
Outras marcas brasileiras integrantes do portfólio de associados da ABA, como Mercado Livre, que ganhou Leão de prata em Entertainment Lions for Music com “The forbiden gift shop”, criação da GUT, estão disputando e ganhando Leões em Cannes.
E a Diageo Brasil encantou Cannes Lions deste ano com a inspiradora campanha “Errata at 88” de Johnnie Walker, projeto da AlmapBBDO,
levando o prêmio máximo – Grand Prix, na categoria Entertainment for Music. O objetivo da Johnnie Walker é dar luz e celebrar personalidades que deram, ao longo de sua vida, passos que impactaram o seu entorno e a cultura, deixando um legado. A história de Alaíde Costa foi a primeira a ser contada.
O que chama a atenção é como o Brasil acompanha a mudança de tom da propaganda de igual para igual e com algo impagável: a boa ideia.
Amanhã tem mais...
Sandra Martinelli é CEO da ABA e Membro do Executive Committee da WFA