No hype da IA, o debate sobre exercitar um olhar mais estratégico e inteligente
Após levantar expectativas e dúvidas no público que compareceu em 2023 do WebSummit Rio, a agenda sobre Inteligência Artificial voltou com mais solidez, estruturada e repleta de novidades para os debates das áreas de marketing, vendas e outros mercados. Em sua segunda edição brasileira, ainda na Cidade Maravilhosa, o tema foi um dos destaques no primeiro dia do maior evento de inovação e tecnologia do mundo.
Tecnologia e I.A cada vez mais impulsionando a transformação
Das relações de consumo ao futuro das fintechs, da construção de uma marca às estratégias de branding, impacto social e marketing, na mensuração de resultados, criação de experiências personalizadas e muito mais. Realmente, a IA generativa veio para ficar.
No entanto, hoje, ela vem acompanhada com uma dose de reflexão. Depois da euforia de alguns meses atrás e de uma aplicação quase desenfreada – e por vezes sem sentido -, agora olhamos para a I.A de uma forma diferente, como se buscássemos entender melhor o como e por que usá-la ao nosso favor.
Como diria José Saramago, é preciso sair da ilha para ver a ilha. E nesse mundo hiperconectado, é difícil estar ilhado ou alheio à tecnologia. Ela segue presente e estará cada vez mais integrada ao nosso dia a dia.
Sorte, ser fiel à sua essência ou se ancorar na Inteligência Artificial?
É imperativo refletir e aterrizar todos os conceitos, profecias e (falsas) promessas da I.A. Sim, ela vai nos ajudar e muito a otimizar processos, seja qual for o nicho de atuação ou segmento. Porém, não quer dizer que ela seja o foco ou fim, mas o meio.
Michael Koch, cofundador e CEO HubKonnect, disse, em seu painel com Serhat Soyuerel, cofundador e Chefe de Receitas da Insider, que “a velocidade da informação é importante para o processo. Mas focar no desenvolvimento do produto, na solução, utilizando a tecnologia a favor, é o que fará a diferença para as empresas, e consequentemente para os consumidores, as pessoas”.
Já em outro momento, uma das principais jornalistas de Portugal, a apresentadora Cristina Ferreira comentou a importância de ser fiel à marca dentro do marketing. E, em tempos de tecnologia e Inteligência Artificial, nada mais humano do que falar sobre valores e propósito.
Afinal, o processo de construção, posicionamento e reconhecimento de uma marca leva tempo. Em tempos acelerados em que os resultados são exigidos à toque de caixa, as mudanças acontecem de um dia para o outro. E, apesar de não existir uma receita pronta, uma verdade continua sendo quase absoluta: seguir a sua própria essência.
E ela dá a dica: “Sorte é quando a oportunidade e preparação se encontram. Quando seu público deixa de se identificar com a sua marca, é preciso se olhar no espelho e ser fiel com você e seu público. Não podemos fugir da nossa essência, propósito, o que pensamos e que queremos”.
É seguindo essa essência humana que um dos principais palestrantes do país, Mário Sergio Cortella, trouxe uma importante reflexão. Ao lado do filho Pedro Cortella, dono da Agência Sophya, especializada na gestão e divulgação de conteúdo digital, o filósofo falou sobre o desafio de se adaptar às mudanças pautadas pela tecnologia e pelo mundo das redes sociais. Hoje, com mais de 22 milhões de seguidores, ele entende que o esforço é válido, desde que não ponha a essência do seu trabalho e reputação em xeque em troca de likes e mais alcance.
“A customização favorece bastante para que a gente tenha um nível de relacionamento no qual a máquina faça uma intermediação, mas não seja a tomadora de decisão. São tecnologias que se integram. Quando se tem a capacidade de colocar uma autoridade real dentro do mundo digital, essa ampliação aparece”, comenta Cortella.
Ele ainda complementa, falando que automatismo e autonomia são diferentes. A tecnologia e a IA devem ser automáticas para auxiliar, sem terem autonomia.
Filosofias, convicções e teorias à parte, o debate sobre IA ainda vai perdurar por muito tempo, uma vez que ela já é uma realidade em nossas vidas. Aos poucos vamos “vivendo e aprendendo a jogar”, como disse certa vez, Elis Regina.
O futuro nos espera, precisamos refletir e encontrar o caminho que nos levará a transformação que queremos.
Marcio Mecca é redator da Netza Martech Agency