O caso Tania Bulhões e os arranhões que ficam na marca

A marca Tania Bulhões virou o grande centro de interesse das redes sociais nos últimos dias. Acusada de plagiar suas criações, ela veio a público, 20 dias depois, para retrucar e dizer que foi, na verdade, vítima de cópia.

Para refrescar sua memória, caso tenha visto a polêmica, ou então, se não viu, vou resumir.

Uma brasileira notou uma xícara idêntica à da marca enquanto estava em um café popular na Tailândia. Indignada, ela postou um vídeo no TikTok e a marca se viu em uma enxurrada de questionamentos sobre a exclusividade de suas peças. Até mesmo a terceirização passou a ser vista como sinal de má-fé. Daí surgiram inúmeros vídeos de clientes raspando o fundo dos objetos comprados para comprovar que os itens eram turcos.

Fora isso, surgiram mais vídeos de coleções idênticas vendidas em marketplaces. A marca demorou 20 dias para se posicionar e o posicionamento veio com uma série de confusões. Primeiro, chegaram a ameaçar de processo a consumidora que postou o vídeo, depois voltaram atrás e a agradeceram por fazer a denúncia.

Depois alegaram que seus produtos são frequentemente copiados e reproduzidos sem autorização. No caso da xícara vista na Tailândia, a empresa supõe que houve a venda não autorizada de peças descartadas pelo controle de qualidade de um fornecedor terceirizado.

E há quem diga que as peças da Tania Bulhões sofrem um dupe (imitação, falsificação) e são oferecidas por aí a preços bem menores. E nesse imbróglio todo ainda suspenderam a comercialização de outras linhas que nem estavam no centro da polêmica o que induz que também eram iguais às xícaras. Foi um desastre após o outro.

O que quero refletir junto com você não é sobre atributos como exclusividade e status que uma marca possa oferecer. Meu convite é para olharmos para outro ponto: a corrida contra o tempo para defender a reputação e manter a marca livre de arranhões.

Muito se divulga e se defende dentro das agências e das organizações sobre a criação de Comitês de Crises de Imagem. E, como podemos supor, esses comitês envolvem várias especialidades profissionais, o que leva tempo para chegar a um consenso sobre uma simples atitude ou comunicado. E por que isso acontece?

Porque, em geral, as pessoas não têm autonomia e porque há uma crença de que o tempo de defesa no tribunal da internet é igual ao tempo de defesa de um tribunal de justiça. Sem falar que o brasileiro (esteja ele alocado na função que for) tem, por cultura, o hábito de fechar a porta só depois que o ladrão foi embora e achar que as coisas ruins só acontecem com os outros.

Se houvesse um sistema de segurança para proteção da imagem e da reputação da marca, os possíveis cenários seriam traçados antes. Assim, no momento de um conflito como esse, a resposta seria imediata como, por exemplo, abrir as portas da fábrica e mostrar para todo mundo o que é produzido dentro de casa. Teve isso? Não teve.

Mas, confesso que a resposta da empresa é plausível e até convincente. Mas veio tarde demais. E ainda teve um plus: a marca já é reincidente em crise de imagem.

Não dá para ficarmos filosofando sobre a realidade que são as redes sociais. Elas existem, estão aí e são, há muitos anos, a nova roda de fofoca entre vizinhos. E, pior ainda, com uma quantidade enorme de vizinhos.  Na mesma velocidade em que os boatos se espalham, também devem correr as políticas de comunicação social. Não que um simples pedido de desculpas vá resolver a crise, mas que também não falte esse elemento porque, claro, isso também será cobrado.

E o que fica de lição para todos nós: mapear as ameaças que podem danificar nossa imagem e tratá-las o mais rápido possível, antes que cheguem à boca da Matilde, que agora é influencer.

Tania Bulhões deveria pedir desculpas, pela demora e pela falta de transparência!

Luciéllio Guimarães é jornalista, professor, palestrante e Estrategista de Imagem Pública