O cisne verde

Em 2007, o professor e filósofo Nassin Taleb criou o conceito Black Swan. O Cisne Negro, segundo Taleb, era uma forma de se referir a fenômenos da humanidade que contêm duas características: são difíceis de prever e geram efeitos de alto impacto.

A internet poderia ser um Cisne Negro, mas o fenômeno acabou sendo mais associado a situações negativas. A invasão da Ucrânia pela Rússia, por exemplo, pode ser um Cisne Negro. São fenômenos que nos surpreendem porque não prestamos a devida atenção aos sinais do nosso entorno.

Como contraponto ao Cisne Negro, John Elkington criou o conceito Cisne Verde, ao lançar o  livro Green Swans – The Coming Boom in Regenerative Capitalism (Fast Company Press, 2020).

O consultor britânico John Elkington foi um dos precursores da responsabilidade social e ambiental nas grandes empresas. Em 1987, fundou a SustainAbility, consultoria que é referência nos processos ESG, hoje em dia.

No livro Green Swans, Elkington afirma que temos consciência do que acontece à nossa volta e, com ela, a sensação de urgência em desenvolver planos de ação para as empresas na direção de criação de valor, não só pelas metas de lucro, mas, também, pelos objetivos mais nobres, expressos em metas de melhora de vida das pessoas e do planeta.

Logo após, em 1994, ele já havia introduzido o conceito de Triple Bottom Line (TBL), que trouxe a ideia de avaliar a empresa sob o ponto de vista social e ambiental, além do econômico.

O Triple Bottom Line é expresso por 3 P’s: Profit, People e Planet. Ou seja, o lucro é necessário – é a essência do capitalismo e da preservação das empresas –, mas, agora, deve vir acompanhado por uma visão de cuidado com as pessoas e com o planeta.

O aquecimento global e suas amargas consequências, já sentidas por todos nós, e os desmandos das autocracias, com um consequente descaso com seres humanos, deram um sentido de urgência a um pensamento que deve permear toda a sociedade, inclusive as empresas: precisamos pensar além do lucro e do acionista (shareholder), precisamos pensar também na preservação do planeta e no bem-estar de todos (stakeholders). Isso tudo exprime um novo capitalismo, menos selvagem e insensível, mais consciente e empático.

Estamos falando do Capitalismo Consciente, um movimento que veio na esteira do Triple Bottom Line e do Capitalismo Regenerativo de Elkington, gerado por Raj Sisodia e John Mackey (este cofundador da Whole Foods, comprada por Jeff Bezos).

Em 2003, a dupla Sisodia e Mackey lançou o livro Firms of Endearment: How woorld-class companies profit from passion and purpose (Empresas de encantamento: Como companhias de classe internacional lucram com a paixão e propósito).

Se a administração com propósito, respeito e empatia já era vencedora em 2003, agora, com os princípios ESG entrando na pauta das empresas de forma inexorável, a tendência é que se torne padrão.

Ou seja, as escolas de administração deverão rever seus currículos e conteúdo programático para se adequar à era ESG.

É preciso integrar conceitos presentes em ESG ao BSC (Blanced Scorecards) e OKRs (Objetivos e Resultados-Chave), tendo como pano de fundo o tal Triple Bottom Line de Elkington.

Bottom line é como os administradores referem-se ao resultado das empresas. Última linha: linha final de um relatório de performance da empresa.

Antes, o bottom-line mostrava simplesmente lucro ou prejuízo. Hoje, além da questão financeira, há os aspectos de
proteção ambiental e do bem-estar das pessoas.

São variáveis que ganham importância crescente para as instituições financeiras atribuírem valor às empresas e para os consumidores escolherem produtos, além da reputação geral das companhias, cada vez mais cobradas para se adequarem aos novos princípios ESG.

Que esse Cisne Verde esteja cada vez mais presente nas nossas vidas.

Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
alexis@criativista.com.br