O clima está em toda parte (e a arte também)

Enquanto líderes mundiais, cientistas, sociedade e negociadores se preparam para discutir o futuro do planeta na COP30, em Belém, uma outra mobilização acontece todos os dias fora dos pavilhões e no mundo todo, nas ruas, nos espaços públicos.  A pauta climática, afinal, não cabe apenas nas Blue ou Green Zones. Ela precisa ecoar nos mercados, nas escolas, nos vagões de metrô, nas praças e nas redes sociais.

Falar de clima é falar com todos.

E na arte, assim como deveria ser a ciência, a gente não comunica.

A gente conecta.

Exposições, filmes, instalações, bienais, performances e intervenções urbanas já provaram isso inúmeras vezes. A arte já foi a redescoberta do humano, no Renascimento, e a cultura de massa e crítica social, na Contracultura. As grandes revoluções da arte quase sempre ocorreram quando a humanidade precisou se reinventar. Hoje, diante da crise climática, vivemos uma nova virada: a da arte como uma linguagem comum para um planeta em emergência.

Quando o público se emociona diante de uma obra que o faz enxergar o planeta de outro modo, há um movimento que vai além da contemplação. É o início de uma transformação.

E talvez essa seja uma das tarefas mais urgentes da COP30: lembrar que o agir precisa ser agora.

É nesse contexto que as iniciativas culturais ganham força como parte essencial da conferência. Sair dos pavilhões para o dia a dia. Levar a pauta do clima para onde a vida acontece. A arte, quando se une à ciência, cria caminhos para que o conhecimento circule e se traduza em conexão.

Aos olhos dos cientistas, os corais sempre foram mais do que organismos. São obras de arte vivas. Suas formas, cores e simetrias naturais desafiam a precisão de qualquer escultor. Cada recife é um mosaico em constante mutação, onde química, biologia e tempo se unem num gesto coletivo de criação. Vistos de perto, revelam uma estética que a ciência observa com fascínio e a arte reconhece como poesia. Mas estão ameaçados: o aumento da temperatura do oceano apaga seus tons, transformando o que era cor em ausência, o que era vida em alerta.

Um dos maiores desafios da comunicação sobre a crise climática é sair dos laboratórios e dos relatórios científicos e chegar ao cotidiano das pessoas. As descobertas e alertas da ciência muitas vezes permanecem restritos a círculos técnicos, quando o que realmente precisamos é que essa informação circule nas conversas do dia a dia.

O clima está em toda parte,  e precisamos falar sobre ele, sentir por ele e agir com ele. Agora.

Dra Flávia M. Guebert é doutora em oceanografia biológica e diretora executiva do Projeto Coral Vivo

*Esse artigo foi feito em colaboração com Maurício Brandão, sócio do Estúdio Bijari, núcleo de criação em artes visuais e multimídia