O efeito Trump
As primeiras atitudes de Donald Trump, na presidência do país mais poderoso (ainda) do mundo, dão mostras do que teremos pela frente. O delírio da incorporação do Canadá e da Groenlândia aos EUA, além da ameaça de tomar o Canal do Panamá, mostram o nível de comportamento que o mundo pode esperar desse governante.
A xenofobia e o preconceito com imigrantes completam o quadro de horror. Mas o problema não está somente nas atitudes diretas de Trump. Respaldada pelo seu posicionamento radical, a Meta, dona do Facebook, Instagram, WhatsApp e Thread, declarou que vai desarmar os mecanismos de verificação e controle de conteúdo postados nas suas plataformas, delegando tal moderação à própria sociedade, estimulando que os usuários façam uso das “notas da comunidade” para questionar fake news e posicionamentos abusivos.
Tal decisão, elogiada por Trump e já tomada por outro player de peso – Elon Musk, com o seu X –, tornará as redes sociais um campo ainda mais cáustico de discussões extremas, sem controle e sem interferência dos gestores das plataformas.
Espertamente, Zuckerberg sabe que, com isso, se livrará, além dos grandes custos do sistema de verificação e controle de conteúdo, também da responsabilização que vinha sendo imposta por diversos países, acarretando em multas milionárias e processos.
A atitude de Trump, apesar de suspostamente agressiva contra a Meta, a princípio, agora cai como uma luva para livrar Zuckerberg da pressão internacional por plataformas mais controladas e éticas.
O efeito Trump chega também nas empresas. O McDonald’s é a mais recente grande empresa a mudar política de DE&I, em um retrocesso conservador contra programas de diversidade, equidade e inclusão (DE&I).
Walmart, John Deere, Harley-Davidson e outras empresas já haviam reduzido suas iniciativas de DE&I no ano passado.
No campo dos grandes grupos do mercado financeiro, há também um efeito manada. Os recentes anúncios de saída de BlackRock, Goldman Sachs, J.P. Morgan, Morgan Stanley, Bank of America, Citibank e Wells Fargo de seus compromissos climáticos, feitos às vésperas da posse de Donald Trump, demonstram esse retrocesso.
O mais emblemático é o do Black Rock, que foi o catalisador de um grande movimento pró ESG, quando seu CEO, Larry Fink, ameaçou excluir do seu portfólio empresas não alinhadas às melhores práticas de governança e respeito socioambiental.
Esse movimento demonstra uma falta de firmeza de propósito dessas empresas, que parecem se curvar às ondas de poder, sem uma política genuína de longo prazo, baseada no respeito sócioambiental e na governança ética e transparente.
A ridicularização da atitude mais sensível e consciente, denominada pejorativamente pelos conservadores de woke, contribui com a decisão questionável dessas empresas.
Mas tal atitude demostra também uma falta de visão e de entendimento de que a prática ESG, antes de ser uma atitude de altruísmo, é positiva para os negócios.
Ignorar os fenômenos climáticos que escancaram seu poder destruidor, com incêndios incontroláveis, como o da Califórnia, além da maior incidência de furacões nos EUA e um clima “maluco” é, no mínimo, uma irresponsabilidade.
Ao ficar do lado de Trump, essas empresas viram as costas para a sociedade, que anseia por um engajamento horizontal e abrangente de todos os agentes, como forma de reverter o processo de degradação socioambiental que vivenciamos hoje.
Tal comportamento é ainda mais questionável, quando temos comprovação clara de que as empresas alinhadas ao capitalismo consciente e aos princípios ESG performam melhor, lucram mais, como mostra o estudo da S&P americana, numa análise das 500 maiores empresas listadas na Bolsa daquele país: as com maior maturidade ESG são as que apresentam melhores resultados.
Nossa esperança é que a realidade das ameaças ambientais e do valor da política ESG se imponham e tragam de volta esses dissidentes para o lado bom da força.
Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
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