Anos atrás, quando São Paulo sofreu com uma seca sem precedentes, levando as reservas de água do município ao quase colapso, eu escrevi um artigo de título controverso: Bendita Seca!. Como assim “bendita”?! Sim, como disse Nietzsche: “Tudo o que não me mata, me torna mais forte”. Como diriam outros, não podemos desperdiçar uma crise.

Os momentos agudos – e o atual é dos mais impactantes – exigem de todos uma mudança de comportamento que pode perdurar depois que a crise passar.

Assim como os moradores de São Paulo aprenderam pela dor, durante a grande seca, a adquirir novos hábitos de consumo de água, entendendo que ela é um recurso precioso, os brasileiros estão agora absorvendo novos ensinamentos e hábitos de higiene e de solidariedade que poderão melhorar a sociedade, depois que a crise passar.

O temor do colapso do sistema de saúde e o impacto econômico da interrupção de negócios são tão grandes e abrangentes que todos os setores da sociedade tendem a se unir para minimizar os efeitos da crise. No campo dos serviços de marketing, clientes estão dispostos a se reunir com agências e fornecedores para ver formas de mitigar o impacto de cancelamentos e adiamentos de atividades.

O governo procura criar linhas de crédito subsidiado e com carência para garantir a sobrevivência de empresas desprovidas de capital de giro, além de uma moratória de pagamento de impostos.

Instituições se unem para encontrar, juntas, formas de minimizar o impacto da crise sem precedentes. Sabemos todos que a pandemia geradora dessa crise tem um período de duração relativamente curto. Ainda não se sabe ao certo, mas a expectativa é a de que não passe de seis meses seu período mais agudo.

É preciso ter fôlego para superar um semestre praticamente sem negócios para sobreviver. Não será fácil. Só mesmo com ajuda governamental!

Mas a crise vai passar! E o que esperamos é que, num efeito darwiniano, a sociedade saia fortalecida dessa provação histórica. Não há dúvida de que as soluções virtuais de negócios, interação e interlocução deverão ganhar mais importância depois de meses de afastamento físico forçado.

Como ficarão os eventos e as atividades presenciais pós-crise? Será que as empresas descobrirão soluções virtuais tão eficazes a ponto de reverem seus planos de ações presenciais? Será que as pessoas voltarão ao “normal”, procurando oportunidades de interações físicas, apesar de todo o arsenal de comunicação e apresentação virtual?

Eu, particularmente, acho que sim. Não acredito num mundo mais frio, com menos contato entre as pessoas. Antes da crise já havia um questionamento quanto ao excesso de interações virtuais, em detrimento do olho no olho, do abraço apertado e do aperto de mão.

Acredito que estaremos ávidos por retomar essas interações mais ricas. É claro que o acesso facilitado à tecnologia nos fará buscar cada vez mais soluções virtuais, mas acredito fortemente que as soluções serão híbridas. Ou seja, seremos sempre mais, não ou.

Acredito que, como legado da crise, as pessoas adquirirão hábitos de higiene que já deveriam fazer parte das nossas vidas. Como decorrência disso, estaremos mais fortes e menos suscetíveis a doenças de todos os tipos.

No campo do marketing, imagino que o legado seja uma relação clientes – agências – e fornecedores menos leonina. Acredito mesmo num reforço do entendimento de que o mercado só é bom se for satisfatório e saudável para todos os stakeholders e não só para alguns.

Tenho motivos para acreditar na valorização das melhores práticas, catalisada pela crise e seus efeitos desastrosos. Imagino, de verdade, um mundo melhor depois que a crise passar. Como diria John Lennon, você pode dizer que sou um sonhador, mas não sou o único. Espero que um dia estejamos todos juntos nesse propósito e o mundo será melhor (perdoe-me a adaptação, John).

Alexis Thuller Pagliarini é presidente-executivo da Ampro (Associação de Marketing Promocional) (alexis@ampro.com.br)