O meu Washington

Este artigo é um breve testemunho dos meus anos de convivência com o Washington.

Assim como tive o meu Duailibi, o meu Petit e o meu Zaragoza, também tive o meu Washington. Fui recebido por ele, na DPZ, em dezembro de 1980.

Gaúcho recém-chegado de uma temporada de mochilão na Europa, achava que agora, “cidadão do mundo”, Porto Alegre tinha ficado pequena pra mim. Foi a primeira oportunidade de conhecer mais do que o autor de anúncios memoráveis, o sujeito capaz de atitudes admiráveis. Washington gostou do portfólio e disse que estava disposto a me contratar.

Mas, antes tinha de tentar reparar uma injustiça. Parece que a agência havia contratado um redator num momento equivocado, teve de demiti-lo e agora surgia a vaga para trazê-lo de volta (quem conheça essa história direito, por favor me esclareça). Nunca entendi bem aquilo, mas já fiquei feliz em ser um plano B da DPZ.

O fato é que o plano A não foi localizado e eu acabei ocupando a vaga deixada pela Marita, que aceitara uma proposta da Lage, Magy.

Já passava de uma semana que eu trabalhava na agência, sapecando com entusiasmo as teclas de uma Olivetti, quando o Washington chegou na minha mesa e perguntou: você não vai querer falar de salário?

Era verdade. Eu estava tão encantado com a oportunidade de ter um espaço na melhor agência do Brasil, ao lado do criativo mais badalado, que havia até esquecidoque aquilo ainda por cima era remunerado.

Fui modesto na proposta e o W ofereceu 20% mais.
Dois meses depois, numa crise de banzo, voei pra Porto Alegre e “fechei” a minha volta com o Marcos Paim, da Escala. Quando, cheio de dedos, fui contar a minha decisão ao Washington, ele foi curto e grosso: de jeito nenhum! Vai trabalhar e não enche mais o saco!

E, assim, terminou a história da minha possível volta pra casa.

Menos de um ano depois, resolvi comprar meu primeiro apartamento, financiado, passo ousado para um redator, de certa forma, ainda recém-chegado. Não deu outra: o orçamento estourou e eu ia ficar inadimplente.

Peguei o W no corredor e perguntei se me emprestava a grana. Sem dizer nada, preencheu o cheque e me entregou, sequer perguntou quando eu devolveria.

Eu recebia muitas propostas e sempre resisti ou a DPZ cobria. Até que a MPM me chamou e eu aceitei. Não fiquei feliz e, seis meses depois, contei pro Washington. E ele me mandou pra DPZ-Rio.  Passados uns meses, soube que tinha aberto a W/GGK. Não demorou muito, estava eu de volta a Sampa, trabalhando ao lado dele.

O que nos unia era a confiança. Eu sabia que podia confiar nos seus critérios e ele sabia que podia confiar em mim, tanto pra fazer a agência brilhar, quanto pra carregar pianos.

Fomos amigos. Poderíamos ter continuado amigos
se uma conjunção de fatores não se tornasse obstáculo difícil de transpor. Um certo deslumbramento e um tanto de arrogância da minha parte, somados à sua
intolerância à crítica, acabaram me afastando do cara que, junto com meu primo, Paulo Tiaraju, o Duailibi, o Petit e o Zara, foi um dos responsáveis pelo profissional que me tornei.

Onde estiver, muito obrigado, Washington.

Stalimir Vieira é diretor da Base de Marketing
stalimircom@gmail.com