O ócio criativo na era da alta performance corporativa

Em um cenário de conectividade constante com o uso de internet estimado em média de nove horas por dia no Brasil, segundo dados da DataReportal, a prática de atividades fora das telas se torna um catalisador do processo criativo.

Esses momentos não são apenas pausas, mas elementos fundamentais na nossa capacidade de criar, pensar de forma crítica e manter um vínculo saudável entre o trabalho e a vida pessoal, entre a conexão e a desconexão.

Todavia, 65% dos brasileiros negligenciam o descanso, não dispondo de nenhum momento de ócio de segunda a domingo, de acordo com a recente pesquisa do Instituto Locomotiva.

Esse dado reflete a preocupante situação de uma sociedade que está totalmente dedicada às obrigações diárias, que não há tempo livre para desopilar a mente.

Diante desse contexto, pesquisas científicas indicam que o descanso, além de promover a sensação de bem-estar, também pode ajudar a ter sucesso no trabalho. Um exemplo é o estudo ‘The broaden-and-build theory of positive emotions’, que indica que realizar atividades que provocam boas emoções promove ações, ideias e laços criativos, variando de recursos físicos e intelectuais a recursos sociais e psicológicos.

Reservar um período para experiências fora do trabalho contribui para um estilo de vida mais equilibrado, e os efeitos positivos podem ser observados em diferentes aspectos, inclusive no desempenho profissional, com impacto no aumento da produtividade, no estímulo à criatividade e nas relações interpessoais.

Com esse pensamento, na década de 1990, o sociólogo italiano Domenico De Masi criou o conceito do ócio criativo, cujo resultado é o conjunto de três ações: trabalho, estudo e lazer.

Essa ideia nos faz refletir sobre a relação que construímos com o trabalho, ou demais obrigações, e a vida pessoal. Para De Masi, o ócio criativo não significa “não fazer nada”, mas reservar um tempo para desfrutar de cada aspecto social e encontrar o seu equilíbrio.

Considero que tenho encontrado o meu [equilíbrio] na prática de acrobacia aérea nas aulas de circo.

É uma modalidade lúdica que reúne atividade física com diversão e proporciona uma experiência poética e inspiradora, com lições e aprendizados que levo para a vida, para encarar os desafios de forma mais criativa, explorando possibilidades e me adaptando às novas situações. Esse hobby fortalece também minhas habilidades de colaboração, flexibilidade e resiliência.

E em conversa com outras mulheres, de diferentes realidades e ritmos, com as quais trabalho aqui na Jüssi, encontrei isso em comum com elas: o hábito de dedicar um momento para exercícios de bem-estar que nos permitam relaxar, ocupar e esvaziar a mente, nos expressar e também desenvolver competências que possam ser aplicadas em outras áreas da vida, inclusive no ambiente corporativo.

Jogar videogame, tocar bateria, montar playlists, lutar jiu-jítsu, pedalar, dançar, ler um livro ou curtir a natureza estão entre as atividades praticadas pelo nosso time interno.

Algumas ajudam a ter controle emocional, disciplina, espírito de competitividade, confiança, organização e capacidade de compreensão, comunicação e trabalho em equipe; enquanto outras acolhem, recarregam e proporcionam leveza, autoconhecimento e inspiração para criar soluções e experiências. Assim como auxiliam no desenvolvimento pessoal e profissional.

Em uma época em que a alta performance corporativa é cada vez mais valorizada, o ócio criativo promove mais qualidade e desempenho.

O sucesso profissional não se resume apenas à eficiência operacional, mas sim à capacidade de inovar, adaptar-se e oferecer soluções distintas em um ambiente dinâmico e desafiador.

Mônica Araújo é gerente de marketing e operações da Jüssi
monica.araujo@jussi.com.br