O paradoxo da conexão: como manter os laços genuínos em um mundo tecnológico
Conexão, palavra que vem do latim conexio e significa ligação, união, vínculo. É um conceito que define nossa capacidade de criar laços com outras pessoas, algo essencial para a vida, seja no âmbito pessoal ou profissional. A tecnologia moldou a forma como nos conectamos com o mundo ao nosso redor, e os benefícios para a humanidade são inegáveis. Ela encurtou distâncias e permitiu interações em tempo real entre pessoas de diferentes cidades, países e continentes.
Mas há um paradoxo. A mesma tecnologia que nos aproxima também pode nos afastar das conexões humanas genuínas. Essa foi uma das discussões do South by Southwest (SXSW) 2025, um dos maiores eventos sobre tecnologia, inovação, criatividade e tendências culturais. Nele, tive a oportunidade de acompanhar o painel da psicoterapeuta Esther Perel — acompanhada do Frederik G. Pferdt, ex-chief innovation evangelist do Google, e a futurista Amy Webb —, que trouxe insights sobre o impacto das nossas emoções e relacionamentos, e como eles são influenciados pela tecnologia.
A facilidade de conexão digital trouxe consigo uma redução na qualidade das interações humanas. Telas e algoritmos de recomendação criam um ambiente propício para relações superficiais, de pouca empatia e profundidade emocional. Perel comentou, inclusive, que o mundo tecnológico está eliminando o atrito das relações, oferecendo "perfeições algorítmicas". Isso tem um custo. Estamos perdendo a capacidade de lidar com confrontos, conflitos e desacordos, o que, consequentemente, muda a dinâmica dos relacionamentos, os deixando mais frágeis e complexos.
A questão que fica é: em um mundo dominado por algoritmos, onde trocas emocionais são reduzidas à curtidas ou mensagens curtas, como preservamos a capacidade de compreender o outro de forma empática e genuína? Afinal, a profundidade dessas relações estão diretamente relacionadas à autenticidade e habilidade de lidar com o diferente. A IA não pode assumir este papel.
Mas isso não significa que ela seja uma vilã. Amy Webb trouxe uma perspectiva otimista para o tema, propondo que utilizemos a IA para ampliar nossa capacidade de interações mais próximas. Em vez de substituir a autenticidade, a IA pode ser uma ferramenta para fortalecê-la, criando espaços onde as conexões humanas possam florescer de forma mais profunda e intencional.
Essa foi uma provocação presente durante todo o SXSW 2025: como equilibrar a inovação tecnológica com a preservação da humanidade? Certamente é uma questão urgente, que não pode ser adiada. Como empreendedor, entendo que quanto antes as marcas compreenderem essa dinâmica e olharem também para a saúde social, além da física e mental, de seus colaboradores, mais estarão preparadas para construir um futuro onde relacionamentos e tecnologias caminham juntas. A transformação do ambiente de trabalho vai muito além da digitalização e da flexibilidade. Crie espaços de convivência que estimulem conversas espontâneas e networking real e fortaleça conexões entre diferentes níveis da organização. O fator humano nunca foi tão essencial para o sucesso das empresas.
No fim, a IA é uma ferramenta poderosa, mas seu verdadeiro potencial está na capacidade de fortalecer as conexões humanas, ajudando a aprimorar relações familiares, amizades e até mesmo profissionais, porque são essas conexões que moldam quem somos e impulsionam nossa evolução. Como bem disse o norte-americano Jim Rohn: "Você é a média das cinco pessoas com quem mais convive".
A conexão não é apenas sobre estar ligado — é sobre estar presente, autêntico e, acima de tudo, humano.
Pedro Vasconcellos é cofundador da rede de escritórios Woba