O poder de uma narrativa simples

Gosto de brincar com a ideia de simplicidade com uma provocação: um “homem das cavernas” conseguiria entender o seu site? A sua comunicação é descomplicada o suficiente?

Quando cheguei ao QuintoAndar, em 2017, era proibido usar a palavra imobiliária em qualquer comunicação. O próprio site dizia “não somos uma imobiliária”. Foi um dos primeiros projetos que liderei, apresentando internamente o conceito de fazer o não familiar se tornar familiar e tivemos excelentes resultados.

Uma mensagem de fácil entendimento pode ajudar a sua startup a crescer. No paralelo, informações confusas afastam os clientes e “jogam contra”.

Certa vez, um fundador de uma startup estava tentando me explicar o que ele fazia. Em 30 segundos, ele utilizou muitas palavras bonitas e alguns termos em inglês. Perguntei a ele: “você trabalha com catracas?”, e ele confirmou.

Expliquei que ele poderia manter aquele discurso, mas no dicionário existia uma palavra que todas as pessoas entenderiam — catraca. Na empresa em que sou CEO, temos uma metodologia de construção de narrativa proprietária, que vai desde a persona, mapa da empatia e enredo à construção de uma campanha, que depois é divulgada em todos os canais que operamos.

Com uma história simples, as pessoas entendem as vantagens, as dores, os apelos racionais e emocionais do produto ou serviço que está sendo oferecido.

Muitas vezes, as startups sofrem por atuarem em setores consolidados com uma perspectiva nova. Porém, os problemas existem e comunicá-los de maneira simples é o caminho para construir uma base de ligação empática com quem está escutando.

Se existe uma palavra no dicionário (como catraca e imobiliária) que explique o que o seu negócio faz, não tenha medo: utilize.

Storytelling é a palavra da vez. O que não significa, necessariamente, que toda startup saiba explicar de maneira clara e eficiente a dor que ela resolve.

Na verdade, a narrativa simples e intuitiva faz toda a diferença quando pensamos em growth. Existem grandes referências de uma boa história no mundo do entretenimento, como “O herói de mil faces”, obra de Joseph Campbell que deu origem ao conceito de jornada do herói.

Mas, apesar da menção, esse processo deve ter como premissa a adaptação da jornada.

Sempre que posso ressalto que não basta replicar a estrutura de Campbell: é preciso enquadrar a marca como mentora e o cliente como herói.

Ao experimentar um produto ou serviço, o usuário passa por uma experiência de transformação, na qual a empresa atua como guia. Portanto, o protagonista da narrativa de uma companhia é o consumidor, e a marca é a mentora.

Além disso, a construção de um bom storytelling está diretamente relacionada a tangibilidade e adaptação das etapas e personagens ao contexto e peculiaridades do setor que queremos atingir.

João Gonçalves é fundador e CEO da JoGo
joao@jogo.company