Uma vez o presidente de uma multinacional ligou para a empresa que dirigia, tentando falar consigo mesmo e ouviu da telefonista a seguinte pergunta: “E o senhor acha que ele estaria trabalhando esta hora?” Quando fui diretor na Embrafilme, o presidente era o Roberto Farias, que teve experiência parecida. Querendo falar com sua secretária, pediu à telefonista para ligar com o gabinete da presidência. E ouviu como resposta: “o Roberto não está – essa hora ele está dando sua nadadinha”. O que era correto, pois realmente pela manhã Roberto ia ao clube praticar um pouco de esporte para manter o físico em dia. E trabalhava como escravo o resto do tempo. Mas, depois dessa resposta, ficava difícil não parecer um vagabundo.

A história a seguir é: outro amigo, grande frequentador da noite, para ajudar uma telefonista (telefonista mesmo) do night club que ele frequentava, a contratou para trabalhar na sua agência. Na verdade, a moça precisava de um horário que permitisse cuidar da filha pequena. Um dia, para saber como iam as coisas na empresa, ligou e pediu para falar com determinado funcionário, sem se identificar. Ouviu esta pérola: “tesão, ele não está na sala…”.

Meu dupla, diretor de arte, casado com uma alemã, quase foi assassinado quando ela ligou para a agência à sua procura. Nós (eu estava junto) tínhamos descido para tomar café com um grupo que estava fotografando no estúdio. A recepcionista explicou assim a ausência do Marcelo: “eles acabam de sair com aquelas moças”.

O grande clássico dessas histórias é a do repórter do Globo, trabalhando de madrugada, que atendeu o telefone e respondeu de forma muito grosseira a alguém do outro lado da linha. A pessoa que telefonou, irritada com o tratamento recebido, pergunta: “você sabe quem está falando?”. O repórter responde: “não, porra!” E ouve: “aqui é o Roberto Marinho”. E ouve de volta: “e você sabe quem está falando aqui?… não sabe? Não mesmo? Graças a Deus!” Click.

Um dia o Armando Morais Sarmento, presidente mundial da McCann, foi eleito Publicitário do Ano nos Estados Unidos. Nunca nenhum publicitário brasileiro chegou tão longe. E o título foi dado após uma pesquisa entre centenas de ilustres colegas americanos, promovida pelo Advertising Age, uma imitação do PROPMARK que eles editam por lá. Evidentemente a McCann brasileira resolveu fazer uma festança de arromba para comemorar o feito. Era, finalmente, os Estados Unidos de joelhos diante do Brasil. Conquista igual só iria ocorrer muitas décadas depois… Mas eles não poderiam saber naquele tempo. Mozart dos Santos Melo, gerente da filial Rio, juntou a fina flor da agência para preparar uma comemoração à altura do acontecimento.

O Armando viria ao Brasil e era preciso aproveitar a ocasião para uma homenagem. Um brasileirinho ensinando gringo a trabalhar. E em publicidade, ou melhor, em advertising! Uma reunião foi marcada e quase todo mundo da agência foi convocado para um amplo brainstorm sobre o tema. Um pouco antes da tal reunião, o Mozart tinha chamado a recepcionista e dado uma bronca porque ela deixava todo mundo entrar na criação.

E dá-lhe reunião. E choveram ideias. De encontro com o presidente da República a desfile em carro aberto pela Rio Branco, tudo foi pensado. Notícia no Repórter Esso (o mais fácil, pois era a própria McCann quem cuidava do programa), edição especial da Revista Propaganda, baile de gala, tudo foi cogitado. O assunto era tão quente que poderia ser até capa de O Cruzeiro: “Sarmento, o Rei de Nova York.” A nossa humildade e modéstia de sempre.

As horas iam se passando e a recepcionista segurou todo mundo que não era da McCann no corredor sem ar-condicionado (naquele tempo no Rio ar não era um equipamento comum – e o calor era o mesmo), dizendo que o “seu Melo” tinha dado ordens para ninguém entrar na reunião nem sair dela. E formou-se na entrada da agência uma fila suarenta de contatos de veículos, representantes de gráficas, boys, fotógrafos, cobradores. Três horas após o início do ajuntamento, ela muito sem jeito, pedindo mil desculpas, entrou na sala de reunião e avisou que tinha um baixinho lá fora, esperando há horas, já meio puto, querendo falar com “alguém” e talvez fosse importante abrir uma exceção e recebê-lo. Era o Armando Morais Sarmento. O Publicitário do Ano de Nova York.

Lula Vieira é publicitário, diretor do Grupo Mesa e da Approach Comunicação, radialista, escritor, editor e professor
(lulavieira.luvi@gmail.com)