O que restará depois, o que permanecerá em pé?

A primeira bolha da internet explodiu na virada do milênio. Não sobrou pedra sobre pedra, com raríssimas exceções. Investidores perderam centenas de bilhões de dólares. Já na primeira década deste século os novos negócios foram se organizando, decolando, e muitos eclodiram pra valer na década passada. Quase todos, durante os anos 2011 a 2020, saudados com pompa e circunstância, críticas e sensibilidade zero daqueles que viam nas novidades sucessos consagrados.

E aí veio a pandemia, impondo máscaras às pessoas, e sacando a máscara dos tais de novos negócios. Escancarando a realidade da maioria das novas empresas supostamente de sucesso garantido. Os grandes nomes, que nos venderam como sucessos consagrados, um após o outro, vão revelando a dura realidade, que não tem absolutamente nada a ver com o que nos foi vendido, comprado e endossado por críticos despreparados e incompetentes.

Assim, a grande maioria das chamadas novas empresas de sucesso de público e de crítica, mas fracasso monumental econômico, agora começam a escancarar suas debilidades, insuficiências, e muitas não sobreviverão. A maioria de consistência zero, que jamais será um negócio de verdade. Meses atrás, um dos mais conhecidos aplicativos de transportes jogou a toalha. E hoje é vítima de brincadeiras no digital. Refiro-me ao Cabify, que hoje se ouve e lê nas redes sociais que “o Cabify, não FY, foi...”

Apenas procurando preservar viva a memória das pessoas, vou me limitar a quem inventou esse negócio e converteu-se em referência, em designação genérica da categoria. O Uber, que passou a designar tudo o que segue o mesmo caminho e modelo econômico como uberização. Além dos transportes, a uberização disso, daquilo, e de outras coisas também. Agora, faça um teste. Digite alguma coisa como “resultados do Uber”, ou, “Uber divulga balanço” no Google, e em menos de 1 segundo terá em sua tela 115 mil informações. Vou apenas ler a chamada de algumas delas, procurando não repetir o período a que se referem. Vamos lá:

Folha – 7 de maio de 2020: “Prejuízo do Uber aumenta 190% no trimestre encerrado em março de 2020”. Infomoney – 5 de novembro 2019: “Uber queima US$ 543 mil por hora, revela balanço...”. Gazetaweb - 8 de agosto de 2019: “Uber divulga prejuízo trimestral de US$ 5 bilhões...”.

Agora, os resultados do ano do início da pandemia, 2020, o Uber voltou a bater recordes de prejuízos. Totalizou US$ 6,77 bilhões. Um pouco menor apenas do que perdeu em 2019, US$ 8,51 bilhões... E em 2021, no Link do Estadão: “Uber tem boa performance no fim de 2021, mas fecha o ano com prejuízo de US$ 496 milhões...”.

Assim, a retirada do Cabify do Brasil é apenas o primeiro movimento de uma sequência que testemunharemos nos próximos meses e anos, de todas aquelas empresas que, em chegando a hora da verdade, não conseguem demonstrar suas viabilidades, e justificar suas existências. Assim, todos com os olhos e a mente abertos, e passando a analisar o que se divulga sobre as supostas minas de ouro do ambiente digital, com maior sensibilidade e inteligência.

O tsunami tecnológico é uma realidade definitiva, e todos têm de tirar todo o proveito das infinitas oportunidades que traz. Mesmo porque, se não fizermos, novas empresas farão e ocuparão o mercado e espaço de nossas empresas. Mas sem jamais nos esquecermos que os fundamentos da economia permanecem rigorosamente válidos e não foram disruptados. Empresas precisam dar lucro, parar em pé; caso contrário...

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing
famadia@madiamm.com.br