Começo a escrever este artigo logo depois de três eventos virtuais seguidos. O primeiro, usando uma plataforma proprietária do organizador; o segundo, por intermédio de uma sofisticada estrutura, pensada para eventos híbridos, com moderadores num palco físico, debatedores online e mais de mil participantes, também online; e o terceiro, por uma live no Instagram.

São alternativas válidas para esses momentos de isolamento, para não deixar a roda parar de girar. São soluções emergenciais, mas que geram um questionamento: será que elas representam o novo normal para o mercado de eventos?

O fato é que a crise gerada pela interrupção dos eventos presenciais é de proporções catastróficas, fazendo minguar uma indústria (Live Marketing/Mice – Meetings, Incentive, Conferences & Exhibitions) que representa quase 13% do PIB nacional, gerando 25 milhões de empregos (diretos e indiretos).

As soluções virtuais são plenamente cabíveis nesse momento crítico, mas será que elas vieram para ficar? Se a ação é virtual, não há espaços sendo locados para receber o público participante, não há alimentos e bebidas, não há deslocamentos, cenografia e muitos outros itens, além de um grande contingente de profissionais, que deixa de prestar serviços.

O contratante pode, num primeiro momento, ficar tentado a imaginar que, pela dor de uma crise, encontrou uma nova forma de interagir e passar conteúdo, mais barata e mais simples de implementar. Mas será que é isso mesmo?

Antes de mais nada, é preciso ter em mente que todos esses recursos já estavam disponíveis antes da crise. Por que então não eram mais usados, em vez de complexos e trabalhosos eventos presenciais? Há algumas boas razões para isso. A primeira delas é que um evento não se presta pura e simplesmente para passar conteúdo e interagir com pessoas. É muito mais do que isso.

A experiência proporcionada por um evento presencial é muito mais rica e envolvente. É muito diferente, por exemplo, apresentar palestrantes por intermédio de telas do que tê-los ao vivo.

E temos de considerar ainda tudo o que acontece no intervalo das palestras, nas ricas interações olho no olho, na discussão paralelas do que foi exposto, no networking, na troca de ideias.

Com certeza, há eventos que ficam na nossa memória por toda a vida, por conta de uma rica experiência vivida. O certo é que as pessoas vão aos eventos presenciais em busca de muito mais do que simplesmente acessar um conteúdo, seja de entretenimento, educacional, de negócios ou motivacional.

Note o comportamento daqueles que pagam ingresso para ir a um grande show, por exemplo. Uma grande parte do público não está lá apenas para ver um artista ao vivo, muitos estão até de costas para o palco.

Estar num evento assim é viver uma experiência especial, é encontrar pessoas interessantes, além de curtir bons momentos. Ah! E por um acaso tem um show rolando ao fundo… É inegável que algumas soluções emergenciais, como o regime de home office, por exemplo, estão se mostrando eficazes, até para os momentos de normalidade. É claro também que reuniões corriqueiras podem ser viabilizadas por plataformas virtuais.

É certo ainda que parte dos eventos pode ser cumprida virtualmente, por intermédio de soluções híbridas. Mas não imagino que passemos a confiar nas telas para nossas interações especiais com objetivos mais nobres. Até porque já estamos submetidos a uma overdose de interações virtuais no dia a dia. Passamos horas e horas mergulhados em telas. Os eventos presenciais devem quebrar essa ditadura e representar um momento realmente especial na vida das pessoas. Que não nos enganemos.

O mundo dos eventos pós-crise não será assolado inexoravelmente pelas relações virtuais, eliminando as presenciais. O mundo do futuro é híbrido: presencial + virtual. É o que espero. Até porque não aguento mais interagir com pessoas através de quadradinhos em telas.

Alexis Thuller Pagliarini é presidente-executivo da Ampro (Associação de Marketing Promocional) (alexis@ampro.com.br)