Ode ao erro

Cannes 2024. Mobiliários urbanos com formatos estranhos, únicos e assimétricos apontam o quão diferente é o nuggets do KFC.

Logotipos desenhados fora do padrão e pintados em muros de bairros simples, sem autorização e sem seguir o manual da marca da bebida gasosa de Atlanta, garantem Ouro e elogios pela ideia magnífica. Inclusive o reconhecimento da Coca-Cola.

O print com imagens fora de foco da campanha para a Brahma impactam, pois o conceito do contexto por trás da campanha é um achado.

Rick Astley regrava os próprios sucessos, mas dessa vez com a letra da música errada, como seus fãs cantam.

Tá tudo errado e tá tudo certo.

E são inúmeras outras grandes ideias apostando no erro, no equívoco e na espontaneidade, que imediatamente se conectam com a gente bem profundamente.

Somos humanos e a IA pode até nos dominar um dia, mas hoje não.

David Droga estava francamente preocupado com inteligência artificial. Já Musk estava certo: em 1 ano e pouco a coisa vai ferver. Eles devem saber algo que não sabemos.

Semana passada uma amiga me contou que seu filho sugeriu a ela dizer bom dia, boa tarde, boa noite, obrigado e com licença toda vez que fizer uso de alguma IA. Não perguntei a ela qual o motivo. Deduzi que lá na frente, quando eles dominarem tudo, talvez poupem você que sempre foi gente fina e educado.

Na publicidade, a IA vai ser uma ferramenta para potencializar a criatividade humana, por isso, fora a preocupação do Droga, o que preocupa realmente é a utilização das IA num território fora da publicidade: no jornalismo ideológico, na propaganda política, no post apócrifo, nas tentativas de brigas pelo poder mundo e Brasil afora.

A publicidade é regulamentada em todas as agências e veículos. Com exceção das redes sociais, onde vale tudo. E isso deveria ser a grande preocupação atual.

Mas o cigarro demorou 50 anos para ser considerado o que era: causava vício e prejudicava a saúde e o convívio social. Talvez mais 40 anos para falar sobre o assunto?

A propaganda voltou. A publicidade em Cannes, óbvio, sempre foi de altíssimo nível. Mas este ano deu um passo a mais. A quantidade de Leões é insuficiente para tanta coisa boa. Por isso quem ganhou, subiu o Everest.

Em filmes, particularmente, os roteiros te pegam no conceito e o craft guia você com linguagem de cinema até a mensagem final. Grandes conceitos, grandes execuções. Pode criar filmes bons à vontade.

O streaming democratizou a alta qualidade de roteiro e entendimento, mas elitizou a produção. Vamos falar disso outro dia.

E por fim, em Cannes você ganha ou aprende. O importante é aproveitar cada minuto de sua ida até lá, porque passa rápido. Acabou e todo mundo saiu de lá pensando em 2025.

Flavio Waiteman é sócio e CCO da Tech&Soul
flavio.waiteman@techandsoul.com.br