Oportunidade cíclica

Hoje, muitos profissionais enfrentam a pressão de se tornarem criadores de conteúdo. Médicos, arquitetos e advogados são incentivados a postar vídeos, stories e lives. Para alguns, essa demanda parece desviar da essência de suas profissões. Mas ao olhar para o passado, percebemos que essas mudanças já ocorreram. Estamos diante de uma transformação cíclica.

Sempre que uma nova mídia surge, há resistência. No início da televisão, por exemplo, as mulheres na tela enfrentavam preconceito. Dercy Gonçalves relembra: “Diziam que mulher que trabalhava na televisão era puta. Ah, minha filha, eu escutei muito isso!”. Esse ciclo se repetiu no cinema. No começo do século 20, muitos artistas de teatro viam o cinema como inferior. No entanto, o cinema provou ser uma nova forma de narrativa, coexistindo com o teatro.

Hoje, as redes sociais desempenham um papel semelhante. Não basta “estar presente”; é preciso usá-las estrategicamente para se conectar ao público. Drauzio Varella é um exemplo claro. Além de seu trabalho médico, ele utiliza jornais, televisão e revistas para compartilhar conhecimento. Agora, usa também as redes para continuar educando.

Assim como Drauzio, outros profissionais podem usar essas plataformas para amplificar seu impacto. Pode parecer desconfortável no início, mas as redes permitem que o conhecimento alcance um público maior.

Dominar a linguagem das redes sociais vai além de “fazer vídeos” ou “postar fotos”. Trata-se de transmitir o que se faz de melhor. No passado, os profissionais dependiam de intermediários para amplificar suas vozes. Hoje, as redes oferecem a chance de falar diretamente com o público.

Hebe Camargo, ao se destacar na televisão, disse algo que ecoa até hoje: “A gente tem de ter coragem de ser feliz e fazer o que acredita, mesmo quando falam mal da gente”. Essa sua coragem é uma inspiração, mostrando que adaptar-se a novas mídias pode ser um processo desafiador, mas essencial. As críticas fazem parte do processo de adaptação a qualquer nova mídia.

Assim como o rádio, o cinema e a televisão, as redes sociais mudam o comportamento profissional e as expectativas do público. Estamos vivendo mais uma fase desse ciclo. A presença digital não significa abandonar a prática profissional, mas adaptar-se às novas formas de comunicação para criar conexões mais profundas.

Drauzio Varella não abandonou sua prática ao usar as redes sociais. Ele entendeu que o conhecimento deve alcançar as pessoas onde elas estão. Outros profissionais podem fazer o mesmo, utilizando as plataformas digitais para potencializar seu impacto sem perder o foco.

A criação de conteúdo, feita com clareza e propósito, pode ser uma extensão natural do trabalho, permitindo que mais pessoas se beneficiem do conhecimento. Estamos diante de uma oportunidade cíclica, e quem se adaptar terá a chance de ampliar sua relevância.

O ponto central é a autenticidade e o desejo de compartilhar saberes. Hebe também disse: “Eu não tenho medo de ser quem sou. O que importa é ser honesta com você mesma, e o resto, deixa o tempo cuidar”. Isso reflete a essência da criação de conteúdo: ser verdadeiro e usar sua voz para se conectar de forma genuína com o público.

Agora, os profissionais têm a oportunidade de dominar essa linguagem e usar as redes sociais para ampliar o impacto de seu trabalho e fazer a diferença em um mundo digital em constante mudança.

Christian Rôças (Crocas) é CEO e cofundador da Flint