Os desafios de ser independente
Com muita frequência me perguntam como conseguimos manter a Repense por tanto tempo, num país que pouco apoia empreendedores e num segmento que se transformou tanto.
A pergunta tem total pertinência, pois, em 18 anos de jornada, vi muitas agências surgirem, virarem referência e, infelizmente, desaparecerem. São vários os exemplos de agências icônicas há 10 anos que hoje sequer existem.
No Brasil, existem mais de 180 mil empresas atuando com comunicação e marketing. Mas a taxa de sobrevivência é baixa: de cada 100 agências abertas, menos de 10 chegam ao quinto ano.
Para as independentes, o desafio é ainda maior, já que não contam com o suporte financeiro dos grandes grupos, exigindo ainda mais resiliência para se manterem competitivas (e viáveis!) nos inevitáveis altos e baixos do mercado.
Já ouvi muitas histórias e motivos: falhas de gestão (especialmente financeira), concorrência acirrada, concentração de receita em poucos clientes e, principalmente, a velocidade brutal com que somos desafiados a nos adaptar às consecutivas transformações do nosso mercado.
No fim dos anos 1990, foi a transição da propaganda clássica para a comunicação integrada. Depois, a chegada da internet, trazendo protagonismo absoluto para tecnologia. Na sequência o boom das redes sociais, do conteúdo e do marketing de performance e de influência. E, agora, chegou a vez da IA.
Por aqui, já acertamos muito e também erramos bastante. Mas nunca tivemos medo de tentar, testar e enfrentar mudanças.
Isso significou, ao longo dos anos, mudar processos, mudar lideranças, mudar ferramentas, mudar proposta de valor e até mesmo a forma como nos remuneramos. Às vezes com dor, quase sempre com dúvida, mas sempre com coragem.
Acreditamos também que o que sustenta uma agência não são os prêmios, muitos menos "modismos", mas a capacidade de construir relacionamentos éticos e confiáveis com seus clientes.
Prestar serviço para empresas é, antes de tudo, trabalhar com pessoas - e isso jamais será uma ciência exata.
É preciso colocar a habilidade técnica no mesmo nível da habilidade relacional, fazendo da escuta ativa um motor para evolução constante, adaptando-se com intencionalidade à realidade e necessidade de cada cliente.
Não dá pra negar que a gestão das agências se tornou bem mais complexa: pelos desafios geracionais, pela velocidade das mudanças nas tecnologias e plataformas, pela pulverização de mídias e canais e também pela complexidade e possibilidades de uso (e mensuração) de dados.
Mais do que nunca, equilibrar VIGOR estratégico-criativo com RIGOR operacional-tecnológico é uma premissa para a sobrevivência no nosso setor.
Chegar aos 18 anos não nos torna melhores, mas mostra que somos resilientes, que acreditamos na vocação de sermos independentes, que estamos sempre nos reinventando e, claro, que a sorte também tem caminhado ao nosso lado.
Otavio Dias é sócio-fundador e CEO da Repense