Os oito skills de uma nova era
A IA pode ampliar capacidades, mas não pode substituir o nosso olhar crítico e sensibilidade
O termo brain rot — “cérebro podre” — foi eleito o termo do ano de 2024 pelo Dicionário Oxford. Ele descreve a deterioração das capacidades intelectuais provocada pelo consumo excessivo de conteúdos superficiais, rápidos e fragmentados, como os vídeos curtos e estímulos incessantes que hoje moldam o comportamento digital.
À medida que a atenção humana se torna mais dispersa, cresce de forma acelerada o uso de ferramentas de IA capazes de pensar, sintetizar e decidir por nós.
A combinação desses dois fatores gera uma preocupação legítima: se delegarmos à tecnologia as tarefas cognitivas que antes nos exigiam esforço, estaremos, aos poucos, atrofiando o próprio cérebro?
Entre os jovens da gen Z, sinais dessa mudança já são perceptíveis: dificuldade de sustentação da atenção, impaciência para conteúdos longos, baixa tolerância à complexidade e tendência a aceitar respostas instantâneas — sem questionamento.
A IA, por sua vez, aprofunda essa dinâmica ao oferecer soluções rápidas, aparentemente prontas e corretas. Esse cenário cria uma ilusão perigosa: a sensação de que pensar profundamente é dispensável.
Mas pensar nunca foi tão necessário quanto agora. Diante desse contexto, começam a emergir novos skills que, longe de serem apenas competências profissionais, se tornam verdadeiros pilares da condição humana diante da era da automação cognitiva.
O primeiro deles é a empatia (1), acompanhada da inteligência emocional, a capacidade de compreender pessoas, reconhecer emoções, criar confiança e construir relações genuínas.
Nenhuma IA é capaz de sentir empatia real; ela apenas simula padrões linguísticos. O mundo corporativo dependerá cada vez mais desse traço profundamente humano.
Outro skill vital é o pensamento crítico (2), aliado à curadoria de informação. Em vez de aceitar respostas prontas da IA, torna-se essencial questionar, avaliar fontes, separar o que faz sentido do que é ruído e refinar soluções antes de adotá-las. O valor do profissional não estará mais em produzir conteúdo bruto, mas em qualificar decisões com profundidade intelectual.
A criatividade e a capacidade de inovação (3) também ganham protagonismo. A IA é excelente em combinar informações já existentes, mas não em imaginar o que ainda não existe. O impulso criativo e a coragem de arriscar continuam sendo atributos exclusivamente humanos.
Complementando isso, surge a tomada de decisão ética e responsável (4): cabe ao humano avaliar consequências sociais, ambientais e morais de suas decisões.
A adaptabilidade, associada ao aprendizado contínuo (5), é outro skill que será decisivo. Em um ambiente em transformação acelerada, quem não se atualiza fica para trás. O profissional do futuro será um aprendiz permanente, alguém disposto a desaprender e reaprender.
Da mesma forma, ganha importância a comunicação avançada (6), capaz de dialogar não apenas com pessoas, mas também com máquinas — afinal, a escrita de bons prompts se torna uma linguagem essencial do novo mundo do trabalho.
Também será fundamental desenvolver colaboração e inteligência coletiva (7). Times diversos, fortalecidos por relações saudáveis, que conectam talentos e diferentes perspectivas, continuarão produzindo resultados que nenhuma tecnologia alcança sozinha.
Esses skills se completam com a visão consciente e a atitude ESG (8), que permitem entender impactos mais amplos nas cadeias de valor e nas comunidades, e com o protagonismo responsável, marcado por iniciativa, autonomia, senso de dono e atitude para transformar ideias em realidade.
Se o brain rot simboliza o risco de um mundo que superficializa o pensamento, esses novos skills representam o caminho para proteger aquilo que nos torna humanos.
A IA pode ampliar capacidades e acelerar soluções, mas não pode substituir o nosso olhar crítico, nossa sensibilidade ética, nossa empatia e nossa criatividade.
Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
alexis@criativista.com.br