Pantanal: marketing que não entra em extinção

Um dos maiores fenômenos da TV brasileira, exibida pela extinta Rede Manchete, marcou picos de 40 pontos de audiência em sua primeira versão, em 1990, e se tornou a única telenovela a desbancar a Rede Globo, líder com seus folhetins no horário nobre.  Com personagens de características simples em um ambiente pecuário, a obra de Benedito Ruy Barbosa transportou o telespectador ao mundo do agro mato-grossense, revelando cotidianos diversos como, por exemplo, os conflitos entre posseiros e grileiros no centro-oeste do país.

Ironicamente, o interesse pela posse dos direitos da novela foi marcado por uma disputa entre as emissoras Rede Globo e SBT na década de 2000, o que comprova o quanto a saga de fazendeiros e ruralistas, em meio a romances, paisagens repletas de uma fauna exuberante e mitos populares permeiam o imaginário e despertam o interesse do telespectador.

Com alto investimento em publicidade para a estreia do remake, a aposta é grande na espera de resultados de audiência e receita. Para o mercado, há um horizonte de oportunidades a ser desbravado. Na época da primeira versão da novela, a criação de jacarés foi mencionada como possibilidade de negócio, com a intenção de comercializar o couro e a carne, tendo como base políticas de conservação da espécie. Atualmente, trata-se de uma atividade em expansão, com muito potencial de mercado, mas que ainda necessita de aprofundamento e quebras de paradigmas com o consumidor.

A siderúrgica e a mineração são dois dos principais geradores de emprego, ao lado de incentivos para a implantação de projetos agropecuários e tecnologias sustentáveis.Aprincipal atividade econômica está ligada a uma das causas ambientais mais polêmicas: a extinção da onça-pintada, espécie extremamente representativa das matas brasileiras. O animal, que se tornou uma ameaça para os criadores de gado de corte, vem apresentando redução de sua população. A região ainda sofre com problemas ambientais que resultam em desequilíbrio ecológico. Da cerca dos 250 mil quilômetros quadrados, alagados em sua maior parte, estima-se que 26% do seu território tenha sido destruído por incêndios.

O Pantanal é um dos destinos brasileiros mais procurados. De acordo com a FUNDTUR/Pantanal, Fundação de Turismo do Pantanal, 47,7% dos viajantes visitaram o destino mais de três vezes, tendo como motivação a pesca esportiva, com hospedagens em hotéis-fazenda, pesqueiros e pousadas. Acompanhar a vida dos peões de comitivas pantaneiras, avistar marruás, imergir na cultura nativa, cavalgando no principal meio de transporte, podem ser atividades que ultrapassem o destino pesqueiro, ampliem o turismo sustentável e diversifiquem o público, predominantemente masculino.

Usufruir do papel de uma emissora de televisão como a Rede Globo para mostrar, em horário nobre, as riquezas naturais do Brasil, é criar possibilidades de se preservar este bioma e gerar negócios por meio de experiências que ultrapassem a tela da TV.

Marcio Duarte é especialista em marketing e diretor da MD COM & MKT - marcio.duarte@mdcommkt.com.br