Para ser inclusivo e afirmativo, a orientação sexual não deve ser uma questão
Sim, eu sei que o título deste artigo pode parecer polêmico ou até contraintuitivo. Mas, em essência, não é. O que quero dizer é que diversidade é aceitar as pessoas como elas são, é incluí-las como elas são, sem que isso seja um acontecimento, um evento especial.
Essa é a perspectiva que guiou a minha carreira por mais de 20 anos, desde meus primeiros dias como estagiário até me tornar fundador e CEO do próprio negócio. É claro que reconheço que existiram também outros fatores: sou, afinal, um homem branco, cisgênero e nasci em uma família de classe média. Desde cedo, fui educado a trabalhar duro e correr atrás das minhas conquistas. Sempre fui muito comunicativo, forte em relacionamento e objetivo nas decisões. Esse perfil me ajudou ao longo de toda a jornada e, por sorte, sempre estive também em ambientes acolhedores que me permitiram ser quem sou.
Foi importante ser aceito desde o início e ter espaço para me desenvolver, até que eu pude criar um espaço que já nasceu de cara com essa cultura inclusiva. Na agência, tenho orgulho em dizer que a orientação sexual ou a identidade de gênero nunca foram e nunca serão uma questão: a diversidade simplesmente existe aqui. Todos são valorizados pelo seu trabalho, pelos resultados que entregam e pela forma como desempenham suas funções. Acreditamos firmemente que a diversidade surge dessa abordagem centrada no desempenho, independentemente da orientação sexual das pessoas.
Por ser um tema tão genuíno e presente na agência, nossa posição é fortalecida por parcerias com clientes que possuem os mesmos valores. É o caso, por exemplo, da Heineken e da Havaianas. Ambas empresas têm um olhar muito forte e genuíno para a comunidade LGBTQIAP+ e não tratam da pauta apenas no mês de junho. Conseguimos perceber a devida importância do tema em todas as ações, o ano todo, não apenas para os consumidores, mas também para seus funcionários. Nós da comunidade sentimos de longe o cheiro de empresas que estão apenas interessadas no pink money, ou seja, que querem atrair os consumidores de olho no nosso poder de compra sem preocupação real com nossas vidas e lutas.
Da mesma maneira, nossa cultura fez com que atraíssemos mais profissionais LGBTQIAPN+ organicamente, pois todos se sentem representados. Naturalmente, minha posição como sócio-fundador e CEO contribui para isso, uma vez que os membros da equipe entendem que são cargos que independem da orientação sexual.
Ser um homem gay nunca foi uma questão para mim, eu simplesmente sou. Criar uma empresa diversa nunca foi uma questão para mim e nem para os meus sócios, nós simplesmente criamos. Isso anula políticas afirmativas? De modo algum! Isso anula políticas de inclusão? De modo algum! Eu sei que muitas pessoas e empresas são preconceituosas, sei que a população LGBTQIAPN+ precisa lutar duramente por espaço e respeito.
No ambiente que criei e convivo hoje, que é um espelho para todos nossos colaboradores, reconheço que se trata de um “mundo ideal”. É o que acredito ser verdadeiramente inclusão. Mas me propus a falar sobre isso porque acredito que precisamos conhecer histórias que provam que, sim, é possível ser inclusivo genuinamente desde o começo, e permitir que todos os profissionais sejam quem são sem amarras.
Paulo Farnese é CEO e sócio-fundador da EAÍ!? Content Experience