A crise mundial gerada pelo coronavírus virou o varejo físico de cabeça para baixo. Shoppings e restaurantes fechados, lojas grandes e pequenas com portas arriadas.

E diante de tantas dúvidas que emergem neste cenário de guerra, temos apenas uma certeza: nada dura para sempre. Vai passar. Não sabemos quando, mas vai passar.

Entretanto, os efeitos emocionais desta quarentena prometem ser mais duradouros.

É fato que, com os canais de venda físicos fechados, a jornada do consumidor foi alterada de forma radical. Fatores que vínhamos constantemente destacando de forma suave estão sendo evidenciados bruscamente, em batalha de vida ou morte pela sobrevivência dos negócios, como a necessidade de maior integração entre varejo físico e digital, como a criação de novos touchpoints digitais e geração de conteúdo relevante para o consumidor, e como a importância de uma definição clara sobre propósito de marca e responsabilidade social.

O consumidor que emergirá da quarentena vai estar digitalmente mais sagaz. Até mesmo aqueles que não tinham muita familiaridade com as tecnologias, como a geração dos BabyBoomers, agora serão versáteis em cultura digital. Portanto, o varejista poderá ter mais confiança para implementar experiências tecnológicas em sua loja física. Soluções sem contato físico (como o pagamento touchless) também serão bem-vindas.

Um outro ponto a ser destacado é a crise econômica global, com muitos desempregados e insegurança em relação aos gastos futuros. Neste aspecto, o oferecimento de facilidades de pagamento, como parcelamentos, descontos e ofertas, deverá estar no radar do varejista.

O consumo, de modo geral, passará por uma reavaliação. Os resultados ambientais do lockdown são visíveis: céus mais limpos, ar mais puro, canais de Veneza com peixes, Baía da Guanabara com tartarugas, canto dos pássaros nas cidades. Por isso, podemos esperar por um consumidor muito mais consciente. Sustentabilidade e economia circular ganharão ainda mais protagonismo. Soluções de economia compartilhada, como aluguéis de coisas (incluindo moda, carros e ferramentas), reúso, upcycling etc., serão cada vez mais frequentes.

A valorização do pequeno produtor local e pequeno varejista local será uma cauda longa deste processo, que exigiu mais empatia de todos, mais consciência social e mais sentimento de fraternidade.

Por fim, o varejo físico tem a faca e o queijo na mão para resgatar o prazer de ir às compras, reforçando as experiências prazerosas: sociabilizar, entreter, divertir, ensinar e potencializar o prazer da descoberta. As lojas poderão se tornar um grande ponto de encontro.

Mas atenção: é preciso planejar e preparar agora.

Fabiana Brito é gerente de shopper e trade marketing da Artplan