Planejar como um japonês, criar como um brasileiro

Estar no Japão é entender que o tempo trabalha diferente. Lá, as decisões não nascem na pressa, mas no preparo. As relações não se constroem em uma reunião, e sim antes dela. A confiança, ingrediente central de qualquer evento bem-sucedido, é cultivada em silêncio, com gestos sutis e respeito pelo processo. É uma lição poderosa para quem trabalha com experiências ao vivo: o que o público vê no palco é apenas a ponta visível de um longo ritual de alinhamento, escuta e intenção.

Os japoneses têm uma palavra para isso: Nemawashi, que significa “cavar as raízes antes de mover a árvore”. Antes de apresentar uma proposta, cada pessoa envolvida é ouvida individualmente. Quando a decisão chega à mesa, o consenso já está formado. É um jeito de evitar surpresas e garantir que todos se sintam parte do resultado. Nos eventos, isso se traduz em algo simples, mas essencial: alinhar de verdade. Investir tempo em ouvir, testar, antecipar. Muitas vezes, o atraso que tememos no início é o que evita o caos na montagem.

No Brasil, aprendemos o contrário. Nossa força está na improvisação. Somos mestres em transformar problemas em soluções criativas, em encontrar beleza no caos e energia na pressão. Mas também pagamos o preço da pressa. Planejamos menos porque confiamos demais na nossa capacidade de resolver. E resolvemos tanto que esquecemos de prevenir. Talvez o ponto de equilíbrio esteja em aprender com o Japão a valorizar o tempo antes do tempo, aquele que não aparece na planilha, mas que garante a qualidade do que o público vai sentir.

Outro aprendizado vem do Omotenashi, a filosofia japonesa da hospitalidade. É o prazer em servir antes que o outro peça, antecipar necessidades e cuidar de cada detalhe sem esperar reconhecimento. Em um evento, Omotenashi é pensar no caminho do participante, no conforto de quem está no credenciamento, na clareza da sinalização, na temperatura da sala. É entender que cada gesto invisível de cuidado constrói a experiência tanto quanto o palco. A hospitalidade japonesa não está nas boas-vindas, está na ausência de atrito.

Também me marcou o conceito de Fubeneki, os “benefícios da inconveniência”. Lá aprendi que nem tudo precisa ser fácil para ser bom. Algumas dificuldades criam valor: o esforço de montar algo, o tempo de espera, o aprendizado ao participar ativamente de uma experiência. Nos eventos, isso é ouro. Ativações que pedem envolvimento, desafios que exigem colaboração ou pequenas pausas que fazem o público respirar geram engajamento real. A experiência perfeita não é a mais conveniente, é a mais humana.

Essas lições mudam a forma de pensar todo o processo. Planejar como um japonês não é ser rígido, é ser intencional. É dar tempo para o consenso, respeitar o ritmo de cada parte e colocar propósito em cada decisão. Criar como um brasileiro é injetar emoção, quebrar padrões, colocar alma no que poderia ser apenas execução. Quando essas duas forças se encontram, o método japonês e a energia brasileira, surge algo raro: eventos com consistência e coração, planejados com disciplina e vividos com paixão.

O Japão me fez entender que o sucesso de um evento não depende do quanto ele brilha, mas do quanto ele respeita o tempo, o público e o propósito. Planejar como um japonês é garantir que tudo funcione. Criar como um brasileiro é fazer com que tudo emocione. E é nesse encontro entre o rigor e a espontaneidade que mora o futuro do live marketing.

Felipe Guntovitch é COO da The Group