Por que eventos esportivos de participação têm tanta dificuldade com patrocínios?
Primeiro, explicando: os eventos esportivos de participação, ou de massa, são as corridas de rua, triathlons, ciclismo, natação. Aqueles que você paga para participar (sofrer?) com outros milhares de atletas amadores.
Apesar do crescimento consistente desde a década de 70 no mundo, o setor no Brasil ainda é muito dependente de apenas uma linha de receita: as inscrições. Ou seja, apesar de contar com diversas exceções, há uma dificuldade generalizada de conseguir patrocínios e apoios financeiros de marcas para boa parte do setor.
E defendo: são plataformas incomparáveis para marcas.
Os eventos esportivos representam a melhor parte da humanidade: unem esporte, senso de comunidade e muitos momentos de conexão emocional. São consumidores fiéis, conectados com um novo estilo de vida.
Mas, se o produto é tão bom, por que é tão difícil de vender?
Primeiro, porque nem todos os eventos têm consistência de qualidade. É difícil conseguir alguma coisa no primeiro ano de qualquer evento, são trabalhos que levam tempo para consolidação e paciência.
Mas o principal: há um gap de profissionalização nas empresas que produzem esses eventos. Muitas vezes falham no foco, ousam pouco na comunicação, têm pouca ambição. São escolas incríveis de trabalho, mas os líderes são carentes de networking, discursos em alto nível e experiência de gestão. Estão sozinhos.
A questão do networking é, em todo caso, a melhor resposta para a pergunta-título. Por que eventos esportivos de participação têm tanta dificuldade com patrocínios?
Imagine que a maioria dos profissionais não fomenta conversas, está fechado numa bolha de operação, não comparece a eventos de inovação, não se interessa / não encontra locais para visibilidade pessoal. Poucos têm LinkedIn, nem sabem para que servem. São apaixonados, com diversas formações, mas pouco acessam o mercado publicitário, no geral, são mal relacionados.
É duro escrever isso.
A ironia é que grande parte dos executivos-decisores de marcas, empresas ou mídias participam dos eventos esportivos participativos. A média de idade é de 39 anos, já a mediana é de 45 anos. Ou seja, já é gente “sênior”. Até a própria base do evento - ouro - é muito mal explorada para captação.
Na última pesquisa que fizemos com os organizadores, a informação é que apenas de 20% a 30% da receita anual vem de ativações ou patrocínios. O resto é no B2C. O lado bom é que é uma escala mais fácil de conseguir. Por outro lado, torna os negócios mais difíceis de se pagarem. Eventos são feitos de um equilíbrio entre os dois lados da moeda: deveria ser “50%, 50%”, como é em outros países.
Há mais de 8.000 eventos esportivos já mapeados por nós em um ano. Mais de 150 por final de semana. O que escolher? Qual deles se diferencia e se conecta com minha marca? As defesas estão carentes - apesar de a plataforma da experiência ser imbatível.
Neste novo ciclo de crescimento acelerado a expectativa é de que o mundo dos organizadores se abra mais. As maratonas, as travessias, o ciclismo de estrada, essas experiências precisam ganhar visibilidade no mercado publicitário.
Por serem inigualáveis - e estarem entre as experiências humanas mais importantes que já inventamos como espécie.
Daniel Krutman é CEO do Ticket Sports