Previsões da Mintel: o futuro pede mais humanidade

Os consumidores não querem apenas inovação; querem preservar o que nos torna humanos

Neste último bimestre do ano, aparecem as previsões e os estudos que podem contribuir para a estratégia do ano seguinte. Divido com você um deles. O relatório ‘Global consumer predictions 2026’, da Mintel, oferece um panorama instigante sobre as transformações nos comportamentos de consumo em direção a 2030.

Mas, para além de tendências de mercado, ele revela um ponto central: os consumidores não querem apenas inovação; querem preservar o que nos torna humanos. Em um mundo que avança para a hiperautomação, três movimentos se destacam — e todos refletem valores humanos essenciais:

  1. Anti-Algorithm (Antialgoritmo): o valor da autonomia e da autenticidade. Os algoritmos nasceram para simplificar escolhas. Mas quando passam a moldar identidades, gostos e relações, surge o desconforto. Cresce o sentimento de que o “eu digital” está sendo escrito por uma lógica que não é nossa. O recado é claro: consumidores querem a tecnologia como ferramenta de liberdade, não de condicionamento.

Isso resgata valores fundamentais:
1.1 - Autonomia: a liberdade de escolher e compreender o porquê das escolhas; 1.2 - Criatividade: a busca pelo inusitado, pelo “desvio da rota”; 1.3 - Autenticidade: o direito de sermos únicos, mesmo que a máquina prefira padrões. Quando marcas se deixam guiar apenas por dados, perdem a chance de criar vínculos afetivos. A eficiência algorítmica não substitui histórias, imperfeições, surpresas — elementos que constroem conexões humanas.

2. The new young (O novo jovem): o valor da realização contínua. A longevidade e a mudança dos marcos sociais estão derrubando a lógica de que juventude é destino e maturidade é declínio. O que emerge é uma vida mais longa e com múltiplos recomeços.

Aqui, três valores ganham destaque:
2.1 - Propósito: viver intensamente cada fase, não postergar sonhos para “depois”; 2.2 - Dignidade: combater preconceitos etários que limitam quem continua ativo e desejoso de aprender; 2.3 - Relação intergeracional: o encontro entre energia e experiência como fonte de inovação social. O que antes era “crise da meia-idade” tranforma-se em redescoberta. Aos 50, 60, 70 anos, mais pessoas viajam, empreendem, amam e se transformam — não porque querem parecer jovens, mas porque a vida continua viva. As marcas que insistirem em comunicar apenas para “a juventude da propaganda” perderão o consumidor que mais cresce — e que mais deseja viver bem o agora.

3. Affection deficit (Carência afetiva): o valor do afeto como necessidade básica. O relatório aponta um alerta: a automatização das interações está nos afastando uns dos outros. Quando a conveniência elimina o encontro, o coração sente falta. A solidão tornou-se  epidemia silenciosa. E, diante dela, as pessoas buscam afeto onde ele é mais seguro e previsível: animais, natureza, ficção, IA.

Mas isso não substitui o que só relações humanas oferecem: vulnerabilidade, troca, coragem de ser visto. O afeto não é acessório. É infraestrutura emocional para existir. Marcas que desejam relevância cultural precisam contribuir para: 3.1 - Comunidade: criar espaços e experiências onde pessoas não sejam apenas indivíduos isolados; 3.2 - Cuidado: oferecer serviços que acolham fragilidades, não apenas transações; 3.3 - Pertencimento: reforçar a sensação de que há um lugar reservado para cada um. A pergunta-chave passa a ser: minha marca promove laços humanos ou apenas elimina fricções?

O fio condutor entre esses três macroinsights é: humanizar para prosperar. Nesse novo ciclo, marcas serão julgadas não apenas pela inovação que entregam, mas por como preservam o humano em um mundo que se automatiza. Porque, no futuro que se anuncia, aquilo que fará diferença já está entre nós: a autenticidade do encontro, a coragem de recomeçar e o valor insubstituível do afeto.

Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
alexis@criativista.com.br