Rádio é capaz de se reinventar, mesmo após 100 anos

Até 2019, acreditava-se que a primeira transmissão de rádio no país tivesse ocorrido em 7 de setembro de 1922. À frente da iniciativa estava o médico e educador Edgard Roquette-Pinto, considerado por muitos como o pai da radiodifusão brasileira. A mídia foi usada em comemoração ao centenário da independência.

Entretanto, documentos provam que a primeira transmissão ocorreu alguns anos antes. Em 6 de abril de 1919, jovens, que estudavam radiotelegrafia, montaram uma estação de forma bem amadora, batizada de Rádio Clube de Pernambuco. A descoberta é do professor Pedro Serico Vaz Filho, da Universidade Anhembi Morumbi, e foi corroborada por meio de notícias em jornais e revistas da época.

Independentemente da data correta, o fato é que mesmo com mais de 100 anos de história e em um cenário de evolução das mídias digitais, o rádio segue relevante para o mercado brasileiro. Dados de medição de audiência de rádio da Kantar apontam que o meio é ouvido por 81% da população e cada ouvinte passa cerca de 4h14min por dia com as emissoras sintonizadas. Por atingir grande parte da população, o meio está presente em todas as classes sociais e faixas etárias, pois incorporou as plataformas digitais e segue se reinventando para manter a sua posição de destaque.

Existem diversas razões para o rádio ser tão apreciado pelo público em geral. Primeiramente, estão as diferentes formas de acesso. Apesar de o aparelho comum ainda ser o método mais usado para consumir esse tipo de conteúdo (81%), o ouvinte também o acessa via celular (24%) e outros equipamentos, como tablet (4%) e computador (3%).

De acordo com os dados da medição de audiência de rádio, 9% dos indivíduos ouvem o meio pela internet, sendo que o tempo médio dedicado é de 2h46min. O aumento contínuo do consumo online mostra o potencial dinâmico do rádio, sempre encontrando formas de expandir o contato com os ouvintes.

Interessante notar também que, quando falamos de audiência web, o perfil deste ouvinte tem características distintas: ligeiramente mais masculino (51%), com forte concentração na classe AB (67%) e com um público mais jovem, entre 20 e 39 anos (54%). Um segundo destaque do meio está relacionado à sua credibilidade. Hoje, 63% dos brasileiros ouvintes de rádio consideram as informações oferecidas pelo meio como confiáveis.

Os comunicadores se tornaram influenciadores, e o conteúdo vem sendo disponibilizado em novas formas como streaming e podcast que complementam a experiência do áudio. O podcast, por exemplo, permite tratar um assunto relevante em profundidade – 31% dos ouvintes de rádio já possuem o hábito de escutar o formato, de acordo com a pesquisa Carona de Rádio, divulgada em maio de 2021.

Diante desses dados, fica evidente que o grande trunfo do rádio é a possibilidade de se adaptar ao mercado.

É a prova de que o meio sabe se reinventar para unir o melhor dos mundos: a credibilidade e o companheirismo do tradicional dial com o dinamismo do online. Tem tudo para continuar relevante pelos próximos 100 anos e muito mais.

Giovana Alcantara é diretora de desenvolvimento de negócios regionais da Kantar Ibope
Mediagiovana.alcantara@kantaribopemedia.com