Reinvenção

Muitas vezes nos pegamos pensativos sobre o que poderíamos fazer para ser mais relevantes, ou mesmo mais felizes em nossas profissões. Quando estamos no automático e nada mais brilha os olhos, é natural nos questionarmos se é isso mesmo o que gostaríamos de fazer.

No meu caso, a resposta foi sempre sim. Mas com incertezas, pois mesmo amando o que fazia, me sentia preso em um círculo onde eu não me sentia completo. Foi neste momento que resolvi dar um reboot na carreira.

Minha carreira foi construída na base do autoconhecimento e resolvi que aquele momento era de repensar, olhar de dentro pra fora, para outros universos, mesmo que estes estivessem dentro da minha área. Peguei minhas trouxinhas e fui pra Los Angeles aprender uma nova língua, ver uma nova cultura.

Larguei uma carreira para estar mais perto da Meca do cinema, entender por que nasciam tantos talentos naquele lugar. Isso me fez perceber o quanto podemos nos beneficiar de pessoas diferentes que estão à nossa volta, algo que seria impossível se eu permanecesse dentro da bolha onde estava. Sim, fui parar em outra bolha, mas isso não importa. Sair da nossa já nos faz enxergar que estávamos presos à rotina e isso é libertador.

Tudo foi mágico, tudo era novidade, exatamente o que eu precisava naquele momento. Estando perto dos maiores diretores de cinema do mundo, eu consegui ver o nosso potencial por um novo prisma. Ainda que um mercado diferente, onde os profissionais tinham acesso a coisas que não tínhamos, sentia que eu precisava aprender algo que não estava ali, algo que me tirasse daquele lugar natural pra mim, o set de filmagem.

Em certo momento, recebi um convite “justamente por ser brasileiro”, para ser parte do núcleo criativo de uma das maiores agências de publicidade dos EUA. Percebi que eu tinha uma oportunidade, mesmo que na minha área, de pisar em um lugar antes não imaginado por um diretor brasileiro. Estar ao lado de grandes criativos, dentro da agência que criou algumas das campanahas mais lendárias para Apple, era um sonho!

Em um momento em que criativos de agências começavam a sair para se tornarem
diretores de cena, eu estava fazendo exatamente o caminho inverso. Participei de campanhas extremamente criativas para clientes gigantes, participei de campanhas para o Grammys, discutimos novas ideias para Gatorade, brigamos por contas gigantes, decidimos caminhos visuais por toda agência. Realmente, uma experiência que não consigo resumir em um texto.

Foi ali que percebi que estava realmente lapidando minha profissão como diretor. Estava dentro de todo o processo criativo, dentro das dificuldades dos clientes, entendendo a fundo todos os pontos para se chegar em um resultado bom tanto para o cliente, quanto para criação.

E vocês podem perguntar, mas o que isso tem a ver com ser diretor de filmes? Bom, vindo de uma cultura autodidata, posso dizer que eu tinha muito conhecimento sobre craft, mas muito pouco sobre storytelling. Eu sabia fazer, mas ainda precisava aprender a fazer com propósito. Eu tinha muito a entregar, mas pouco sobre o que eles realmente precisavam receber.

A vida me deu a oportunidade de me aprofundar em um mercado tão complexo, mas ao mesmo tempo fabuloso, que é esse jogo entre os desejos das marcas e o que realmente precisamos contar sobre elas. Hoje posso dizer que isso mudou minha percepção sobre a profissão e me tornou um diretor muito mais maduro e ainda mais apaixonado pelo que faz.

Jabuka é diretor de cena da Untitled