O ano era 1978. Nelson Sargento, profundamente incomodado com a invasão de músicas de diferentes origens e nacionalidades ocupando e apoderando-se das ondas do rádio. Sentou e mandou ver. Beth Carvalho gravou…

“Era para os compositores da época não se entregarem. Sempre fizeram samba. Correndo ou não da polícia. Movimentos passam. O samba, não. É uma instituição e não vai passar nunca”, lembra Nelson…

“Samba, agoniza, mas não morre. Alguém sempre te socorre. Antes do suspiro derradeiro…”.

92 anos antes, 1886. Richard Sears, chefe da estação de trens de North Redwood, nas horas vagas, vendia produtos de terceiros. O negócio cresceu. Alugou um galpão para armazenar os produtos que vendia para as pessoas que moravam longe, através de catálogos enviados pelo correio. Os produtos eram entregues pelo trem.

Antes da virada do século tinha inventado as vendas a distância e as vendas por catálogo, e o galpão convertendo-se, com as portas abertas, na primeira loja de departamentos da história.

No fim de 2018, ano passado, quase 130 anos depois, a Sears foi a leilão. O negócio definha. Um dos interessados queria comprar o que sobrou, o chamado inventário, vender todas as lojas, e a Sears seria apenas e tão somente uma fotografia na parede, um registro histórico e emblemático nos livros de administração e do marketing, e… Desaparecendo para sempre. Essa era a proposta da Abacus Advisory Group. Felizmente, perdeu.

Venceu a do bilionário Edward Lampert, gestor de fundo hedge, que melhorou sua oferta de US$ 4,4 bi para US$ 5,3 bi, e contemplando em seu plano a recuperação – praticamente impossível da Sears – e mantendo abertas 400 lojas. Para os saudosistas e emotivos, alguns anos a mais para se despedir da primeira loja de departamentos da história. No dia 1º. de fevereiro, a proposta vencedora ainda precisava ser aprovada num juizado de falências.

12 anos. Exatos 12 anos foi o tempo necessário e suficiente para o quase total derretimento de uma empresa legendária. No ano de 2006, alcançava seu clímax. A internet engatinhava e a Amazon era uma ameaça distante. Naquele momento a Sears fazia-se presente nos principais shopping centers dos Estados Unidos e depois da fusão com o Kmart operava quase 2.500 lojas.

No dia 15 de outubro do ano passado ingressou com o pedido de falência. Das 2 mil lojas restavam 700 abertas e das quais Lampert pretendia manter 400 funcionando na tentativa, praticamente impossível, de resgatar a legendária marca.

No dia 16 de janeiro de 2019, a proposta de Eddie Lambert foi aceita, e o bilionário pagou US$ 5,2 bi pela empresa. Pelos termos da compra, Lambert pretende manter 425 lojas abertas e 50 mil empregos. A mesma empresa que nos melhores tempos chegou a ter 355 mil empregados e 3.500 lojas. E que desde a virada da década já contabiliza mais de US$ 10 bilhões de prejuízos.

Não vai resistir. Vai morrer. Mas ainda será possível, espero, por mais um ou dois anos despedir-se de uma empresa que faz parte dos alicerces da economia e do mundo moderno. Em suas últimas postagens em seu espaço no Twitter a empresa recusa-se a aceitar a morte: “We are down, but not out…”.

Valeu, Sears. “Satisfação garantida ou seu dinheiro de volta”.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)