Self-checkout
É essa a denominação que muitas empresas da nova economia vem adotando, fazendo, praticando. Demissão pelo digital, a distância, de forma seca, dura, gelada, devastadora. Como cantou Vandré em “Disparada”, “porque gado a gente marca, tange, ferra, engorda e mata, mas com gente é diferente...”. Era! Agora é pior do que com gado.
Cada empresa escolhe como proceder em relação ao seu principal capital, seu capital humano. A empresa que adota o self-checkout está acionando uma bomba relógio que ao eclodir manda sua marca – mais que merecidamente – para o quinto dos infernos. Até anos atrás o capital humano, o People de nossa Madia Marketing Matrix, era constituído exclusivamente das pessoas que trabalhavam na empresa.
Hoje, na SEKS, Knowledge Society e Sharing Economy, o capital humano das empresas – em verdade seu capital principal, desdobra-se em 3 dos 13 “Ps” de nossa Matrix: People, os que continuam trabalhando dentro; + Partners, os parceiros externos; e + Providers, os fornecedores. Todos, sem exceção, deveriam continuar sendo selecionados, escolhidos, treinados e tratados com respeito e carinho, e maior admiração. A pão de ló. Jamais, como os gados são citados na canção de Vandré.
Mas, na nova economia, e em seu episódio mais sórdido e burro, “Com Gente Não É Mais Diferente”. É como gado! Algumas das empresas da nova economia tangem, ferram, engordam e matam seu People, a parte mais importante e sensível de todo o negócio. Marcando na pele, coração e alma os que até ontem eram valorizados, e plantando uma semente de preocupação, angústia e medo, nos provisoriamente sobreviventes.
Em matéria da melhor qualidade e importância, assinada por Carolina Nalin, em O Globo, a pratica embainhada com requintes de crueldade e sangue jorrando por todos os lados: “A demissão por videochamada em grupo não é mais caso isolado. Vem sendo adotada e praticada em empresas de tecnologia de diferentes países. A modalidade self-checkout, em que o próprio funcionário se desliga da empresa sem merecer um telefonema ou reunião, já é considerada praxe em muitas dessas empresas. Até o último dia 9 de junho, mais de 8 mil demissões aconteceram nesse formato em empresas da nova economia aqui no Brasil...”
A tal da modernidade não significa abandono e desconexão dos valores essenciais. Esses não apenas permanecem e, agora, mais que em qualquer outro momento, megavalorizados. Tudo o mais é passível de recuperação. Corrigem-se os erros de planejamento, as práticas do dia a dia, procede-se a uma revisão no portfólio de produtos e serviços, muda-se a sede, abrem-se e fecham-se filiais, renovam-se parcerias e, especialmente, descartam-se velhas plataformas e tecnologias trocando por novas e mais eficazes; repito, tudo o mais é passível de recuperação. Respeito, consideração e empatia são princípios ativos essenciais para empresas que pretendem alcançar um mínimo de vida e sustentabilidade. Sem esses valores básicos pode-se até mesmo atenuar os desafios de caixa de curto prazo, e até mesmo atenuar os prováveis resultados negativos do balanço, mas equivale a ministrar cicuta recorrente às empresas.
Cicuta? Designação vulgar de plantas herbáceas do gênero Conium e da família das umbelíferas... A cicuta – conium maculatum – é planta aromática, com caules cilíndricos, frequentemente manchadas de vermelho... com alto potencial tóxico para animais e seres humanos. Isso posto, totalmente desprovidas de inteligência social, muitas das empresas da nova economia não se deram conta, ainda, e depois não adiantará mais, que ao adotarem o self-checkout, de verdade mesmo, o que estão fazendo é praticarem o “shoot yourself in the foot”, atirando, mais que contra os próprios pés, contra seus cérebros tecnológicos infinitamente menores e desprezíveis do que das minhocas. Mesmo porque, jamais conseguiriam atirar contra o que não têm. Coração.
Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing
fmadia@madiamm.com.br