Ser ou não ser, eis a propaganda
Em um mundo saturado por estímulos, onde cada rolagem de tela derruba mais anúncios do que pensamentos, a pergunta clássica de Hamlet assume nova relevância: ser ou não ser autêntico. A propaganda, antes sinônimo de persuasão e repetição, agora enfrenta um dilema filosófico. O consumidor já não busca apenas produtos; busca sentido. E sentido não se produz em massa, se constrói com verdade.
A crise de propósito que atravessa o mercado não nasceu da falta de narrativas, mas do excesso delas. Em meio a slogans inspiradores, causas abraçadas pela metade e discursos embalados para viralizar, a incoerência virou ruído permanente. Se, como sugeriam os antigos filósofos, o homem deseja alinhar ação e essência, as marcas precisam urgentemente fazer o mesmo. Não basta parecer responsável, inovadora, inclusiva. É preciso ser.
É aqui que a filosofia conversa com o branding. Porque, assim como na vida, as marcas que sobrevivem são as que têm clareza sobre quem são e que demonstram isso nos detalhes, não apenas no discurso. A autenticidade se tornou o diferencial mais valioso num ambiente onde a inteligência artificial acelera processos, mas torna ainda mais fácil identificar o artificial no comportamento das empresas.
Nesse cenário, inovação não é sobre tecnologia, mas sobre coerência. E as marcas que entendem isso adotam práticas que unem propósito, experiência e impacto real. Por aqui, temos observado justamente essa transição: o uso de dados e inteligência cultural para construir narrativas que não maquiam uma identidade, mas revelam a essência da marca. O futuro não pertence às empresas que falam mais alto, e sim às que falam a verdade, mesmo quando ela exige mudança.
A revolução da autenticidade exige coragem. Coragem para assumir imperfeições, para dialogar com o público em vez de apenas informá-lo e, principalmente, para ser consistente. Quando cada interação reforça quem a marca é, a propaganda deixa de ser interrupção e passa a ser relação.
No universo filosófico, vale lembrar: a comunicação não deve responder apenas “o que vendemos”, mas “por que existimos”. Marcas são organismos vivos; crescem, se transformam e, assim como nós, precisam olhar para dentro antes de tentar conquistar o mundo. Ser ou não ser? No universo das marcas, essa já não é uma dúvida, é uma escolha diária. E, em tempos de demanda por autenticidade, apenas quem escolhe ser continuará relevante.
Edmar Bulla é fundador da Croma Consultoria