Sexo e impulsionamento de mídia
Investir milhões com impulsionamento? Pare com isso! Fale sobre sexo e os olhos conservadores e liberais se voltarão para você. Essa é a fórmula que vem movendo o mercado da economia da atenção desde que o mundo é mundo. O "crescei e multiplicai-vos" da Bíblia é sobre o quê? Adão e Eva foram expulsos do paraíso por quê? Qual a profissão mais antiga do mundo? Pensou? Esse tema serve até para alavancar e despencar a imagem pública das pessoas. O mesmo ato que serve para procriar ou dar prazer também serve para humilhar, segregar e excluir.
Quer acabar com a reputação de alguém? Ofereça notícias sobre escândalos sexuais para a imprensa e para os perfis de fofocas das redes sociais. Pela comprovação dos fatos, isso já causou grandes estragos no mundo da política, no entretenimento, nas religiões, em grandes impérios e reinados como na Roma Antiga, no Egito dos faraós, nas dinastias chinesas e até em reinados e democracias mais recentes. Quem não lembra dos escândalos sexuais envolvendo os príncipes Charles e Diana? Charles era amante da Camilla Parker Bowles enquanto Diana saia com o professor de equitação. A perseguição da imprensa provocou até o acidente de carro que matou a princesa. Quem não lembra também do escândalo sexual envolvendo o presidente norte-americano Bill Clinton e a estagiária Monica Lewinsky?
Mas, há também situações em que o sexo alavancou a carreira de outros como Kim Kardashian, Paris Hilton, Pamela Anderson, Mayra Cardi e tantas outras. A curiosidade sobre corpos nus alheios ou sobre corpos copulantes catapultou à fama pessoas que não queriam esse tipo de exposição e até aquelas que fizeram isso de propósito. Lembra da "peladona de Congonhas"? Ela sobreviveu muito tempo na mídia após este feito.
Na literatura, o Marquês de Sade - que escrevia ficção erótica- virou sinônimo de depravação sexual e seu nome deu origem até ao termo "sadismo". Ele foi preso várias vezes e terminou seus dias dentro de uma solitária em um manicômio. Outro caso é o do julgamento de Oscar Wilde. Em 1885 ele abriu queixa por difamação contra o Marquês de Queensberry. Queensberry divulgava na imprensa que o poeta tinha casos com Alfred Taylor e com o Lorde Alfred Douglas e expunha até detalhes dos relacionamentos. Queensberry foi absolvido e Wilde foi preso por cometer indecência com homens. Depois disso, um dos maiores dramaturgos da era vitoriana, foi exilado e morreu na pobreza.
Nas artes, esse tipo de arma anti-reputação matou também a carreira da maior cantora de ópera de todos os tempos, Maria Callas, depois de se tornar público o seu caso extraconjugal com o milionário grego Aristóteles Onassis. Ela não só se afastou dos palcos como também entrou em depressão profunda.
Na década de 90 o astro de Hollywood Hugh Grant foi preso depois de contratar uma prostituta em Los Angeles. E aqui no Brasil? O que não faltam são escândalos sexuais. Da Marquesa de Santos ao Arthur Aguiar. Fazer sexo (ou não!) e ter isso divulgado choca a opinião pública e destrói reputações e carreiras. É mais grave do que assassinar alguém. Que o diga o ex galã da Globo Mário Gomes que teve a carreira e a reputação destruídas depois de espalharem uma fake news de que ele usava uma cenourinha como dildo.
Na semana passada, uma garota de programa foi a público falar que o jogador Neymar e o atleta Pedro Scooby teriam transado. Sem provas, claro! Sem falar nos holofotes voltados para a Andressa Urach e os detalhes de sua vida sexual. Aliás, ela é uma pessoa que soube dominar o público porque ela sabe o que se torna notícia viral. E, nesta semana, tem um novo caso: a história do apresentador Dudu Camargo. O que aconteceu? Surgiu um garoto de programa espalhando uma história de que o apresentador defecou nele durante um suposto ato sexual. Antes, plantaram a notícia de que ele defecou no camarim do SBT. Escatologia (que significa fezes) para causar a escatologia (em teologia e filosofia é a doutrina que trata do destino final do homem) na carreira de um profissional de TV. Curioso, não? Só que a história desta semana veio com excrementos e… um escândalo sexual! Até porque a história de antes não era picante e não foi um "tiro tão certeiro" na reputação do jovem.
Só sei que, nesse disse-que-me-disse todo, está lá o garoto de programa aproveitando a oportunidade para pedir às pessoas que marquem o perfil dele nos comentários dos perfis de fofocas (para ele ganhar seguidores, claro!) e para mencionarem o nome dele e marcarem o diretor do reality A Fazenda. Isso sim é uma busca desenfreada pela fama. É uma pena para ele que teve a conta no Instagram derrubada por ultrapassar as Políticas de Uso da plataforma porque agora vai ter que ter um retrabalho para ganhar novos seguidores. Ele vai ter que apresentar um novo escândalo ou outros detalhes da fake news com o apresentador, afinal, essa é a sua arte como nova personalidade da mídia.
Muitos casos são reais e outros são invenções da imaginação e da maldade humana. Mas, antes de saber se é fato ou boato, as notícias vão se espalhando como penas ao vento. Tenta juntar essas penas depois?! É, praticamente, impossível! Nunca é um acidente da natureza, sempre tem a ação humana com algum interesse específico mesmo que isso custe a reputação, a carreira e até a vida de alguém. Quem fica com o prejuízo? O Dudu Camargo e tantos outros famosos que não terão a oportunidade de trabalhar ou fazer publicidade porque as marcas e as agências não costumam investigar a fundo o que é verdade ou mentira nessa indústria. Ficam apenas com a informação superficial dos sistemas de buscas de palavras. Não dá pra confiar em nada e em ninguém. O curioso é que esse tipo de jornalismo sensacionalista logra sucesso ao chamar a atenção do público e a publicidade não tem tanto sucesso assim em suas campanhas conservadoras e centradas no mundo da fantasia. O curioso é ver regulamentação de exibição de conteúdos em determinados horários em obras publicitárias e de ficção na TV e o mais curioso de tudo é ver a ficção rolar solta como verdade [sem restrição de horário ou tag de faixa etária] em sites de notícias, redes sociais e vídeos [até ao vivo] no YouTube. Vai entender…
Aos aspirantes à fama eu preciso alertar: ser famoso é a coisa mais fácil de conseguir. Basta que você venha a público com uma "fofoca quente" sobre algum escândalo sexual de alguém. O difícil é se manter famoso porque isso vai exigir que você prove que tem boa índole, que é mais que um "rostinho bonito e fanfiqueiro". E também que tenha a sorte de não ser o bode expiatório da vez porque a publicidade vai exigir que você seja um príncipe ou uma princesa para protagonizar os seus contos de fadas.
Luciéllio Guimarães é estrategista de Imagem Pública, Master Expert da HSMU e criador da disciplina Imagem Social e Pública da graduação em Economia da Influência Digital da PUC/PR