O lugar onde menos se trabalha a distância é o lugar onde todos imaginam que é o lugar onde mais se trabalha a distância… Silicon Valley. Além de um ambiente corporativo machista e tóxico, o Vale do Silício é um dos piores lugares do mundo em termos de qualidade de vida, e, em contrapartida, um dos mais caros, também. De 2000 a 2018, uma mesma casa que custava US$ 800 mil, hoje custa US$ 1,3 milhão em San Francisco. Na cidade de San José, a que mais traduz o Vale, uma mesma casa saltou de US$ 700 mil para US$ 1,2 milhão. Já na Califórnia, estado, os aumentos foram menores. Essa mesma casa que custava US$ 700 mil hoje custa menos de US$ 1 milhão.

Quando as primeiras empresas da nova economia foram se instalando na região, e conscientes que mais cedo ou mais tarde teriam problemas, criaram um Think Tank batizado de Silicon Valley, hoje comandado por Russel Hancock. Objetivo, acompanhar e antecipar soluções para as questões econômicas políticas e sociais que inevitavelmente emergiriam na região, diante de um crescimento espetacular e desordenado. Quase uma Serra Pelada… Fez o que pode.

Trouxe o assunto para comentar com vocês por dois motivos. Primeiro, para falar das loucuras que vêm ocorrendo hoje numa das microrregiões mais prósperas do mundo, e onde o profissional que comanda a Think Tank que procura dar ordem na bagunça é otimista: “Somos uma economia pujante e temos alguns problemas, mas todos têm solução”.

Segundo, para conversarmos sobre a instituição Think Tank. Muitos pensam tratar-se de uma solução dos tempos de hoje. Em verdade, é uma das manifestações de cidadania e coletividade mais antigas. Apenas, voltou à moda. Formato que deverá multiplicar-se ao infinito, na medida em que os cidadãos empoderam-se, apoderam-se, e detonam um estado a caminho de se converter num singelo e eficaz aplicativo. Think Tank é o que o nome diz. Pessoas que se reúnem numa associação – como se fosse um tanque – para pensar e discutir questões comuns e do interesse de todos. As traduções para Think Tank vão desse fábrica de ideias, e passam também por círculo de reflexão, ou laboratório de ideias.

Os primeiros Think Tanks são dos anos 800, no tempo do imperador Carlos Magno. Muitas vezes, como lugares de mediação e discussão de um melhor encaminhamento para os conflitos que se estabeleciam entre reis e monarquias e a Igreja Católica. Quase sempre, para tentar aplacar a voracidade tributária e arrecadatória da Igreja. Todo o processo da chamada Reforma Protestante foi pontuado entre os séculos 16 e 17 por diferentes Think Tanks. Um pouco mais adiante Think Tanks e Academias confundiam-se. Cabia a cada um dos organizadores escolher a denominação que lhe agradasse mais.

Quando decidimos criar a Academia Brasileira de Marketing, há 15 anos, nossa preocupação era juntar 40 empresários e profissionais que tivessem no marketing sua ideologia e se dispusessem a alocar parcela de seus tempos, inteligência e conhecimento na sua verdadeira e melhor disseminação. O único e verdadeiro marketing, que brota no ano de 1954, nas páginas do livro Prática de Administração de Empresas, do adorado mestre e mentor Peter Drucker.

Em todos os próximos anos, assistiremos uma multiplicação quase que ao infinito de Academias e Think Tanks, preparando o fim do Estado tal como conhecemos até hoje, e em direção ao Estado Aplicativo. Think Tanks e Academias, as pontes de transição entre o velho mundo, este que ainda vivemos e encontra-se em seus estertores, e o admirável mundo novo que começa a nascer. E enquanto não temos o Estado Aplicativo. Que um dia carregaremos em pen drives ou nos smartphones, e nunca mais precisaremos de quem quer que seja para não nos atender, tratar mal, e, em sua voracidade, arrancar tudo o que ganhamos. Até hoje, perplexos, não conseguimos entender como nos deixamos aprisionar numa roubada monumental, que é o estado brasileiro. Assim, e por essa razão, a reforma administrativa é a mãe de todas as reformas. Sem a reforma administrativa, todas as demais terão seus potenciais efeitos positivos reduzidos a migalhas.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)