Somos felizes?
Estou coordenando um curso de ESG para RHs, em parceria com a ABRHSP. E na semana passada foi a vez de falarmos de Saúde Mental e Felicidade, entre outros temas. Tivemos como convidada a Patricia Ferreira, head de saúde mental e chief happiness officer da Ambev.
Antes de mais nada, é muito bacana vermos empresas de grande porte dando importância para a saúde mental e a felicidade no ambiente corporativo. E é muito bom ver e ouvir Patrícia discorrer sobre o tema.
Por trás da sua aparência jovem e simpática, vemos a segurança e a assertividade de uma veterana. Mas a apresentação da Patrícia começa angustiante. Ela compartilhou dados preocupantes e surpreendentes sobre nós, brasileiros.
Somos o número 1 do mundo em ansiedade. Somos o 2º país mais estressado do mundo. Por curiosidade, o Japão é o número 1 (sabemos das pressões que o estudante e o profissional japonês recebem por uma carreira bem-sucedida).
Em termos de depressão, somos o 5º do mundo. O segundo das Américas. E uma informação devastadora: no Brasil, morre-se mais de suicídio do que por acidentes de moto. Você sabia disso?
Eu fiquei bastante surpreso. Embora, nos meus estudos sobre o S, do ESG, já havia me deparado com dados preocupantes. Por exemplo, a informação de que somos um dos países mais desiguais do mundo, o 2º mais desigual do G20.
Também que somos o país onde mais se mata LGBT+ no mundo. É também onde uma, entre quatro mulheres, sofre de algum tipo de violência. Mas, peralá, e aquela imagem de um povo feliz, alegre, jovial que sempre está atrelada ao nosso povo?!
Por força das minhas atividades profissionais, representei o Brasil em diversos eventos pelo mundo afora e, sempre que me apresentava como brasileiro, lá vinha um sorrisão do meu interlocutor, lembrando do samba, do Carnaval, da boa música, do futebol e outros traços positivos da cultura do nosso país.
Sabíamos que esse imaginário tinha um quê de fantasia, mas também de verdade. Lembremo-nos daquela famosa frase do Tom Jobim: “Viver no exterior, é bom, mas é uma merda. Viver no Brasil, é uma merda, mas é muito bom!”.
Mas, será que ainda é bom mesmo? Eu tive a sorte de nascer e viver a infância no interior de São Paulo, morar na cidade maravilhosa Rio de Janeiro, e me fixar na nossa Sampa.
Sempre tive o melhor desses lugares. Sou obrigado a concordar com Tom Jobim. Mas, não me iludo, sei que faço parte de uma minoria que tem acesso ao lado Bélgica da Belíndia.
Sei que temos 35 milhões de brasileiros sem acesso a água tratada, apesar de termos o maior volume de água doce do planeta. Sei que temos 33 milhões de brasileiros passando fome, apesar de sermos o tal “celeiro do mundo”. Cresci ouvindo que somos o país do futuro, um país de jovens.
Vejo agora que estamos envelhecendo rapidamente, com taxas de natalidade que mal repõem a população em algumas cidades. Será que somos apenas bons atores, demonstrando uma alegria que já não se sustenta no âmago da nossa existência?
Será que aquela explosão de alegria do Carnaval, das festas juninas e dos eventos populares Brasil afora é apenas um teatro e, nos bastidores, quando tiramos a fantasia, somos seres tristes e angustiados?
Quero fugir dessa imagem porque, repito, não sinto na pele as agruras que esses números negativos representam, mas não dá para nos alienarmos e vivermos numa bolha insensível, protegidos por muros dos nossos condomínios e pelos vidros blindados dos nossos carros. A realidade está aí! Não foi à toa que abracei a causa ESG.
Acho verdadeiramente que nós, que temos recursos e meios, temos também uma missão das mais importantes. Dá pra melhorar, sim! Dá para aderir e praticar princípios que respeitam a sustentabilidade ambiental, a responsabilidade social e as relações mais éticas, conscientes e transparentes. Dá pra ser feliz! Mas essa felicidade só será completa se for compartilhada com quem precisa.
Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
alexis@criativista.com.br