A binaridade de gênero leva a sociedade, como um todo, a pensar que só existem duas possibilidades em qualquer ocasião: homem e mulher; masculino ou feminino. A não binaridade, por outro lado, mostra que existe um espectro variável entre e para além desses dois termos. Mais do que isso, mostra que a divisão por si só não é necessária na maioria das situações.

Para acabar com essa separação e apoiar a diversidade e a igualdade, algumas práticas não binárias podem ser adotadas por qualquer empresa. As principais são voltadas para o tratamento das pessoas colaboradoras e para a comunicação interna.

Começando com o tratamento, é importante treinar a concepção que todos nós temos sobre expressão de gênero, para evitar fazer suposições. Pessoas não binárias (e até mesmo as que são binárias!) podem ter qualquer tipo de corpo e qualquer tipo de aparência. Por que supor quais pronomes cada uma prefere se é possível apenas perguntar?

Esse é o primeiro passo para demonstrar acolhimento: perguntar nome social e pronome de preferência. Nem todo mundo terá um nome social, mas é essencial que exista espaço para quem tem. Nesse sentido, o uso do nome e pronomes escolhidos pela pessoa valem para todo o tratamento no ambiente de trabalho. É necessário que a empresa crie mecanismos para garantir o respeito às pessoas colaboradoras no dia a dia, seja em e-mails, reuniões, quadros de avisos, tabelas e conversas cotidianas.

Algumas pessoas podem preferir o tratamento neutro, o que nos leva ao outro ponto de destaque entre as práticas: a linguagem inclusiva. Ainda que o uso de pronomes neutros esteja em processo de descoberta e estudo na Língua Portuguesa, já é possível implementar a linguagem inclusiva. Ela consiste em passar as informações necessárias sem fazer suposições e sem utilizar termos ultrapassados, considerados ofensivos para grupos minoritários. Ou seja, a ideia é não presumir o gênero de ninguém e não reproduzir discursos sexistas, racistas, capacitistas e LGBTfóbicos no geral.

Essa não é uma mudança rápida de ser feita na cultura da empresa. Existe muita desinformação sobre a linguagem inclusiva e pode levar algum tempo até que todas as equipes se acostumem. Para ajudar, é fundamental realizar treinamentos ou oferecer materiais como este Guia de boas práticas de comunicação efetiva. No dia a dia, deve-se aplicar as noções aprendidas naturalmente. Tudo isso auxilia o entendimento sobre a importância dessas medidas.

E qual é a importância, afinal?

Atualmente, no mercado de trabalho, uma infinidade de coisas são divididas entre “para homem” ou “para mulher”. Desde a função e remuneração (um problema que segue ano após ano) até a cultura organizacional. O resultado é a desigualdade e a discriminação, tanto contra mulheres quanto contra as pessoas trans, em especial as não binárias.

Atuar em prol da não binaridade é uma das melhores opções para sair desse ciclo. Em primeiro lugar, porque torna a empresa mais diversa e inclusiva, aberta a pessoas de todos os tipos. Só isso já traz benefícios para o ambiente corporativo pois constrói-se um espaço seguro e acolhedor que possibilita inúmeras trocas. E, como é de conhecimento geral, o resultado de uma equipe realizada vem em forma de produtividade. Com a externalização das diferenças, surgem também vantagens de inovação e criatividade para o negócio.

Além disso, investir em práticas de diversidade é uma maneira de devolver algo bom à sociedade. As pessoas colaboradoras que estão envolvidas em um ambiente desse tipo acabam levando essas práticas para seus círculos sociais. É isso que ajuda a espalhar boas ações e a mudar o mundo em que vivemos: um passo de cada vez, sempre em busca da equidade. E, claro, sempre com muita empatia.

Júpiter Coelho é uma pessoa não binária e Analista de Design II na agência digital full service Raccoon