Considerando, mais que acertadamente, a mudança radical naquele que foi um dos setores mais prósperos da economia, o dos automóveis, e na medida em que a relação automóvel consumidores muda completamente de características com pessoas migrando da propriedade/compra para o uso/assinatura, a Sul América, uma das líderes desse território, decidiu saltar fora e concentrar-se no ramo que no curto e médio prazo torna-se mais interessante, e enquanto sua carteira de autos tinha valor.

Assim, vendeu, sua carteira de seguros de automóveis para a Allianz, em 2019, pela bagatela de R$ 3,2 bi. E concentra-se, de lá para cá, em proteção e cuidados para as pessoas. E no ano passado, 2020, registrou um lucro líquido total de R$ 2,3 bi, o maior de toda a sua história, e 98,7% maior que o do ano anterior.

Nesse meio tempo, fortalecendo sua revisão estratégica, comprou a Paraná Clínicas Planos de Saúde, fazendo com que sua carteira de saúde e odontologia ultrapassa-se os quatro milhões de clientes.

Em paralelo preservou-se forte e competitiva no território do seguro de vida, com dois milhões de segurados, e ainda mantém sob administração em seu plano de previdência privada um total de R$ 8 bilhões. Assim, e com total merecimento, fechou a década com um glorioso balanço.

Sob o comando de Gabriel Portela desde 2013, e próxima de completar 125 anos, a Sul América é uma das mais longevas empresas brasileiras, e vem demonstrando uma capacidade e sensibilidade incomuns em detectar mudanças e antecipar-se com respostas consistentes. Ou seja, tem revelado excelência em sua visão estratégica.

Explicando a decisão da venda do business de seguros de automóveis da empresa que dirige, Gabriel Portella disse…

“Não estávamos considerando essa alternativa. Mas veio a Allianz com uma proposta surpreendente. Levei a proposta ao conselho e me perguntaram: ‘você pode dar o retorno para essa carteira que se equipare à proposta da Allianz?’ No ato respondi, nem pensar! A Allianz mais que valorizar a carteira, valorizou nosso modelo de negócios…”.

Sobre as constatações, lições e aprendizados decorrentes da pandemia, Gabriel enfatiza que o índice de sinistralidade no plano de saúde, no trimestre olho do furacão da coronacrise, o segundo do ano passado, caiu para 69,1%, uma queda de 12% em relação ao ano anterior, e explica: “as pessoas ficaram com medo”.

O nível de redução em determinadas especialidades foi muito grande. Em pronto-socorro, 40%. Exames despencaram. E a telemedicina foi a maior aliada na relação com nossos clientes…

Assim, a Sul América saltou de 500 consultas médicas mensais da telemedicina de antes da pandemia, para 68 mil!

É isso, amigos. Não existe hora para se reposicionar. Ainda que movimentos vigorosos e consistentes tenham de ser dados e até mesmo em plena pandemia.

E foi o que fez, com incomum propriedade e consistência, a Sul América Seguros.

Num movimento de mestre, a Sul América trocou pepinos – automóveis – e decidiu concentrar em morangos – proteção e cuidados para as pessoas.

Saltou na frente. Agora, aos concorrentes, só resta correr atrás.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)