Tudo o que pensar, pense ao contrário
Sempre volto a alguns livros quando as coisas ficam confusas. E, como diz a brilhante campanha da David para Burger King, vivemos em tempos confusos.
O livro a que me refiro é de autoria de Paul Arden: Tudo o que você pensa, pense ao contrário.
São poucas páginas de humor publicitário inglês que trazem mais do que um sorriso de lado.
Elas mostram que a insensatez às vezes é a originalidade que falta na vida. E que originalidade é um lugar muito exclusivo.
Porque dá trabalho, é difícil chegar lá e, quando se chega, volta-se para o início. Assim é trabalhar com criatividade.
E o exercício de pensar ao contrário é ótimo para esses tempos, que como já disse, são confusos.
Hoje em dia trabalhamos na indústria da criatividade, mas ideias originais ainda assustam justamente por nunca terem sido feitas. Isso nos paralisa de medo.
Falamos sobre inovação, vivemos disso, mas é fato que a inteligência artificial tem provocado reações exageradas por gente que ainda não usou, mas já detesta.
Inovação é se abrir ao novo e o novo pressupõe experimentar antes e julgar depois.
Tempos confusos esses.
O digital chegou há muitos anos em nossas vidas com promessas de transparência de dados, ROI e liberdade, mas hoje vemos temas incômodos rondando, como privacidade, audiência por ódio, lucro acima da ética, audiências não auditáveis e desprezo pelas leis de um país.
O mercado global nunca teve tanto talento brasileiro no mundo, entretanto as agências brasileiras independentes são tão poucas.
Alguns gurus anunciaram a morte das agências de publicidade dez anos atrás, mas vemos hoje em dia que todos querem mesmo é ter uma agência.
Isso é realmente confuso.
Grandes empresas brasileiras, que deveriam prestigiar as agências independentes daqui, sentem-se mais confortáveis e seguras com grandes conglomerados globais cujos donos nunca viram, nem vão ver ou sequer falar com eles. Realmente é confuso.
Para épocas assim, precisamos buscar a criatividade e a simplicidade.
O livro mostra que pensar ao contrário é um exercício criativo que te pega pela mão, te diverte e clareia um pouco as coisas.
Num mundo com tantas respostas rápidas, pensar um pouco mais e ficar em silêncio é ouro.
Assim como o livro de Paul Arden, essa publicação, propmark, tem nos ajudado, ano após ano, a esclarecer as coisas, ponderar sobre elas e, por que não, pensar ao contrário delas.
Enquanto tivermos quem faça as perguntas certas, seremos uma indústria relevante.
Flavio Waiteman é CCO-founder da Tech and Soul
flavio.waiteman@techandsoul.com.br