Um convite à humanização das metrópoles
Não sei você, mas eu tive uma sensação muito boa ao andar por nossa megalópole nesses últimos dias.
À medida que a primavera se aproxima, São Paulo vem nos apresentando um espetáculo raro este ano. Ipês, manacás e outras espécies florescem e pintam de cores vivas uma cidade muitas vezes associada ao cinza do concreto e ao ritmo frenético de sua vida urbana.
Essa explosão de flores, além de encantar os olhos, desperta uma reflexão necessária: como humanizar as grandes metrópoles? Humanizar não significa apenas pensar em melhores serviços, transporte ou habitação. Isso é básico, necessário, mas não suficiente. Significa também criar espaços acolhedores, capazes de proporcionar qualidade de vida, saúde e bem-estar aos seus habitantes.
Uma cidade mais verde é uma cidade mais humana. Comprovadamente, o verde provoca boas sensações nas pessoas. E essa sensação vai além da beleza visível. As árvores e áreas ajardinadas cumprem um papel muito além do estético.
Elas melhoram a qualidade do ar, reduzem a temperatura em dias de calor extremo, absorvem parte da poluição sonora e oferecem abrigo para aves e pequenos animais que ainda resistem em meio ao concreto.
Mais do que isso, ajudam a mitigar os efeitos das mudanças climáticas que já sentimos na pele: tempestades violentas, inundações repentinas, ondas de calor. Uma metrópole com mais áreas permeáveis e vegetação intensa está mais preparada para enfrentar esses desafios.
No entanto, basta caminhar por alguns bairros de São Paulo para perceber a escassez de verde. Ruas largas, com trânsito intenso, exibem calçadas áridas, sem uma sombra que alivie o trajeto do pedestre. Praças malcuidadas e espaços públicos abandonados reforçam a sensação de que a cidade foi feita apenas para carros e prédios, não para pessoas.
É urgente repensar essa lógica. Governantes têm papel central nesse movimento, investindo em programas de reflorestamento urbano, ampliando parques e incentivando a arborização de calçadas.
Mas a responsabilidade não é apenas do poder público. As empresas também podem cuidar do seu entorno e apoiar iniciativas de reflorestamento.
Na verdade, cada morador pode ser parte dessa transformação. Plantar uma árvore em frente de casa, cuidar do jardim do condomínio, participar de mutirões de revitalização de praças são atitudes que, multiplicadas, fazem diferença.
Humanizar São Paulo – e outras cidades – significa reintroduzir a beleza e o frescor da natureza em nossa experiência cotidiana.
Significa transformar a caminhada até o trabalho ou a ida à escola em uma vivência menos agressiva, mais agradável, mais inspiradora.
Em um tempo em que a vida urbana tende a nos endurecer, o verde nos convida à contemplação, ao respiro, ao encontro com algo essencial.
Também há um aspecto simbólico nesse esforço. Ao cuidar da vegetação, estamos cuidando de nós mesmos.
Uma cidade mais verde comunica esperança, acolhimento e respeito pela vida.
Torna-se não apenas um espaço de passagem, mas um lugar de pertencimento. São Paulo tem mostrado, nesta Primavera antecipada, que pode ser uma cidade surpreendente, vibrante e florida.
Cabe a nós não deixar que essa beleza seja efêmera.
Precisamos insistir em políticas públicas consistentes, em projetos de urbanismo sustentável e, sobretudo, em uma mudança de mentalidade coletiva.
Queremos uma São Paulo — e muitas outras cidades brasileiras — que se preocupem com a mobilidade, com a economia, com a segurança, mas também com a delicadeza das flores, a sombra das árvores e o frescor do vento que passa por entre as copas.
Porque humanizar as metrópoles é, no fim das contas, humanizar a vida de todos nós.
Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
alexis@criativista.com.br