Utopia x distopia
Não sei você, mas há dias em que o meu nível de esperança por um mundo melhor fica lá embaixo.
O avanço tímido dos países signatários do Pacto Global da ONU, de 2015, nas ações de reversão do aquecimento global; o crescimento de forças conservadoras e xenófobas pelo mundo afora; o aumento da desigualdade; os ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – sendo ignorados pela maior parte de governos e empresas; a forma como uma pandemia nos impactou...
A desesperança cresce quando nos damos conta que quase 700 milhões de pessoas ainda passam fome no mundo, que não param os conflitos sanguinários – os da Rússia na Ucrânia e aquele entre Hamas e Israel estão mais na mídia, mas há outros pouco divulgados e devastadores, como o do Haiti, a guerra civil na Síria e no Iêmen, o conflito Azerbaijão x Armênia em Nagorno-Karabakh, entre outros.
Enfim, tudo isso ajuda a criar uma visão distópica do mundo. Uma coisa meio Mad Max. Mas, de repente, a gente se dá conta dos perrengues que o homem já superou na Terra e a atuação de uma – ainda – minoria mais consciente e volto a ter um alento.
No meu artigo anterior, aqui mesmo neste espaço, convidei você a imaginar um mundo em que todos despertassem para uma forma nova de atuar, seja na sua família, vizinhança, na empresa, em qualquer lugar.
Que os princípios ESG passem a fazer parte do nosso dia a dia. Afinal, não deveria ser assim desde sempre? Não deveríamos respeitar o meio ambiente (E), as pessoas (S) e adotar postura ética (G) em todas as ações?
Muita gente, principalmente empresários, reluta e adia a adoção de uma jornada ESG por achar que vai ter de mudar totalmente a forma com que atua.
O que tenho procurado fazer na minha catequese ESG por aí é mostrar que nem sempre é necessária uma mudança radical.
Muita gente já está cumprindo os critérios ESG naturalmente e nem sabe. Quando realizo um diagnóstico ESG junto aos meus clientes, muitos se surpreendem ao “descobrir” que já atuam em consonância com os princípios em diversos pontos. Já existe a prática de equidade de gêneros, por exemplo. A governança já está em compliance com as melhores práticas. Os resíduos já são classificados e separados para uma destinação correta.
Enfim... o que sempre digo é: ESG não é necessariamente uma certificação a ser obtida, mas, isso sim, a adoção de uma administração consciente e respeitosa.
Começa com a premissa seguinte: A partir de agora, vamos incluir no nosso planejamento o impacto de todas as nossas ações.
Se o impacto for negativo, vamos repensar a atividade. Se for positivo, vamos potencializar. Pronto! Simples assim.
Bem, peralá!, não tão simples. É preciso ter critérios claros e conhecer as variáveis que importam, quando se analisa a atuação da empresa.
Na área ambiental, devemos ter consciência de como consumimos água, energia e demais insumos, além de fazer uma gestão de resíduos competente e conhecer nossa pegada de CO2.
Na área social, devemos conhecer o perfil dos nossos colaboradores e perceber se estamos em linha com a diversidade brasileira, se temos um número de mulheres equivalente ao de homens, participação expressiva de pessoas pretas ou pardas e se incluímos PcDs e pessoas do espectro LGBT.
Precisamos ter certeza de que obedecemos toda a legislação e temos um ambiente de trabalho respeitoso.
Olhando para fora, precisamos exercitar empatia e ter uma atuação social, de ajuda humanitária.
E, envolvendo tudo isso, uma governança ética e consciente. Vendo dessa forma, dá até uma esperança de que a mudança necessária para um mundo melhor não é tão utópica, não?
O ser humano tem se mostrado capaz de reverter situações de risco e quero terminar este texto com essa visão utópica. Sim, utópica, mas não impossível. É só querermos!
Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
alexis@criativista.com.br