Calma, nenhum comentário pornográfico. Apenas uma espetacular lição do que o digital faz de melhor. Viraliza em uma semana, dias, horas, minutos, o que se levava anos para disseminar no tempo onde só existiam as plataformas analógicas. Mas, mesmo assim, dependendo da fonte, alguns SQVM ocorriam… “Sem Querer Viral Marketing…”. Um dia, Ana Maria Braga, em seu programa na Globo, foi visitar o Mercadão Municipal. Passou por diferentes bancas, experimentou o pastel de bacalhau. Além de aprovar, falou durante dias sobre a iguaria. Mudou a fre-
quência ao mercadão. E, assim, de poucas unidades por dia, passou-se a vender centenas, e milhares nos fins de semana.

Não só deu um “upgrade” na vida da família do dono da banca como introduziu, definitivamente, o pastel de bacalhau no cardápio de centenas de bares e restaurantes. Sem recorrer à internet e viralização. Viralização boca a boca decorrente de mensagem espontânea, de testemunhal de credibilidade, na televisão. Como era a vida antes do digital. Valter Baldo, até meses atrás, ganhava seu dinheirinho, e era querido pela sua pequena e fiel clientela do Boteco Zé do Brejo. Durante anos sua mulher desenvolveu uma receita de torresmo, que era consumida com prazer e naturalidade pela fiel clientela. Um dia, pelas mãos dos deuses e artes dos demônios, o fato é que um cliente decidiu, por falta de assunto, fazer um vídeo do torresmo do Zé do Brejo e postar em seu grupo no WhatsApp… “A” gostou e whatszapiou para “B”. “B” gostou e whatszapiou para “C”. “C” gostou… Normalmente o Boteco Zé do Brejo abre suas portas próximo do meio-dia. No dia seguinte à whataszapização do vídeo, Valter levou um susto. Uma longa fila formava-se na frente do boteco. Pensou, “vou chamar a polícia”. Mas, conversando com os primeiros da fila, entendeu. Decidiu distribuir senha. No total, 300. Faltou matéria-prima, um corre-corre atrás dos fornecedores, e o último da fila foi atendido noite alta, céu risonho…

Hoje, meses depois, Valter Baldo e seu Boteco Zé do Brejo são conhecidos em quase todo o Brasil. Converteram-se, ele e sua mulher, com total merecimento, nas maiores autoridades na ciência e na arte de fazer torresmo. Na ocasião, em matéria de uma página na Folha, disse: “Faço questão de escolher cada peça da carne que compro. Vou todas as noites no frigorífico escolher a carne, que deve sempre estar fresca. A congelada não tem a mesma qualidade…”. Segundo a Folha, para dar conta da clientela, Baldo teve de contratar quatro funcionários e se organizar no formato de cadeia de produção. O processo é demorado e começa às 5 da manhã. A carne é limpa, temperada e enrolada. Em seguida colocada num defumador industrial, onde permanece por cerca de cinco horas antes da etapa da fritura… Conta Baldo o momento da epifania, ou, como diria Malcolm Gladwel, o momento do Tipping Point… “Um dos clientes do Zé do Brejo, Regis Flór, 43, trouxe alguns amigos para conhecer o torresmo. Quando chegou o prato, diante da euforia de seus amigos maravilhados com a iguaria, Regis Flór decidiu fazer um vídeo e colocar no WhatsApp…” O resto é história.

Essa a diferença. Dois tempos, dois momentos. O da TV, analógica, Ana Maria Braga e o pastel de bacalhau; e o do WhatsApp, Boteco Zé do Brejo, viralização do torresmo. Nesses dois episódios, lições definitivas do melhor entendimento do papel das plataformas, e do segredo do sucesso de diferentes produtos e serviços. Ainda que a partir de circunstâncias e decorrências; de serendipismos e epifanias. Mas, acreditem que podem e devem ser planejados e executados. E, se executados com qualidade, conseguir resultados semelhantes. Talvez, melhores. Desde que tendo à frente formadores de opinião de verdade, porque autoridades, não os tais dos lamentáveis influenciadores…

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing
(famadia@madiamm.com.br)