We are (not) the robots
Fred04 e Chico Science jogaram esses versos na minha cabeça ainda adolescente, em 1994. Além da potência da Nação Zumbi e da identificação com a Terra, isso me trouxe os primeiros questionamentos sobre como arte e tecnologia estavam juntas. Eu já ouvia, colado num dos meus irmãos, “Kraftwerk”. Música feita com sintetizadores e computadores lá nos anos 1970. Os caras “vestidos de luzes”, vozes robóticas, movimentos robóticos. Quando eu passei a entender We Are The Robots eu só pensava “Putz! Quero mexer com computador”.
“We are programmed just to do
Anything you want us to
We are the robots”;
Eu desenhava, tinha aula de artes com minha mãe, gostava de artes plásticas (um salve para Andy Wahrol, Basquiat e Edward Hopper) e ficção científica. Pirava com “Tron”, ficava hipnotizado com os efeitos especiais de “Star Wars” (até hoje não me livrei do vício infanto-juvenil, ainda bem), “Minority Report” sempre me passava na cabeça quando comecei a trabalhar com touch screens, “A.I.: Inteligência Artificial” (beijo, Spielberg) trouxe inquietação. Confesso que “Matrix”, só numa segunda chance que eu me dei muito tempo depois, me abriu a cabeça também.
Perdão, fãs.
Eu era mais próximo de humanas que de exatas, e aí “mexer com computador” mudou para “quero desenhar no computador”. E foi seguindo esse roteiro que estudei publicidade, fui pra área de criação, mas como já pensava em tecnologia desde a adolescência, passar para designer de produtos digitais foi rapidinho e ainda na faculdade.
A música talvez tenha me acompanhado mais como fonte não só de inspiração, mas de instigação e curtição, claro. Cada uma em seu devido momento. Música clássica ou folk (Dylan) para os momentos de concentração e criação, rock’n’roll (em especial Ramones, Devotos e Pixies) pros momentos de ‘gerar na alta’ e acelerar a produção, como tocar 3 acordes em músicas de 3 minutos. No momento de curtir, era a situação, mas tudo que tive como referência ao longo dos anos: Chico Science, Luiz Gonzaga (meu primeiro disco), forrós, frevos e sambas (de Bezerra a Beth Carvalho), Reginaldo Rossi, o verdadeiro Rei, se sobressaiam. Boto em prática Arnaldo Antunes:
“Música para ouvir no trabalho
Música para jogar baralho
Música para arrastar corrente
Música para subir serpente
Música para girar bambolê
Música para querer morrer
Música para escutar no campo
Música para baixar o santo.”
Certamente outras pessoas de áreas diversas (fora de TI e design) que estejam lendo este artigo tenham fonte de inspiração similar, rituais semelhantes para criar e produzir. Para mim, isso só me reforça que a arte, em qualquer que seja a sua forma, é fonte de inspiração e instigação para as pessoas, mesmo que não percebam. Curtam, se permitam experimentar música, cinema, artes plásticas.
Sem que você perceba, isso vai te abrir a mente e muitos horizontes.
Art is what you can get away with” WARHOL, Andy.
Artur Sá é cofundador e CMO da Mesa