Escolhi o ano de 2019 para buscar conhecimento e aprendizado fora do ciclo tradicional, de graduação, pós e MBA. Por isso, investi em eventos e cursos, como o SXSW, Singularity Summit, Friends of Tomorrow, Hacktown e, finalmente, o Web Summit, que chegou ao fim nesta quinta-feira (07), em Lisboa.

Considerado o melhor evento de tecnologia do planeta, a iniciativa faz parte da estratégia do país de estimular o empreendedorismo e a inovação, visando fomentar a economia, que passou por tempos difíceis nas últimas décadas. E o plano tem dado certo. Muitos dos jovens que deixaram o país estão retornando e o número de estrangeiros, atraídos pelos incentivos oferecidos pelo Estado, vem aumentando de forma expressiva. Essa soma de juventude, diversidade e dinheiro forma a equação perfeita para atingir esse objetivo.

Em meu primeiro Web Summit, a sensação que fica combina muito com o clima de Lisboa: frio calor, chuva e sol se alternam de uma hora para a outra, assim como o encantamento e a decepção.

Para quem trabalha com eventos, fica impossível não se frustrar com a falta de planejamento em alguns aspectos básicos. O segredo para se dar bem por aqui é não chegar na hora da entrada, não comer na hora do almoço, nem ir embora na hora da saída. A impressão que fica é que 70 mil pessoas vivenciam um evento pensado para, no máximo, 50 mil.

A dinâmica de palestras, com duração de 20 minutos e nenhum intervalo, fomenta o FOMO (‘Fear of missing out’ – patologia psicológica que se produz pelo medo de ficar de fora de algo) e torna impossível dar aquela paradinha para ir ao banheiro, comer ou beber e se deslocar de uma para outra em meio a uma multidão (do primeiro ao último pavilhão a caminhada é de cerca de 30 minutos).

Passado o susto e adotado o JOMO (‘Joy of Missing Out’ – alegria de não estar em todas), o tempo começa a se abrir e faz-se luz às belezas do festival. Se por um lado é impossível acompanhar tudo o que acontece, existe uma vasta opção de palestras incríveis. O número de startups impressiona e mostra que, muito provavelmente, alguém já teve aquela ideia que você considerava genial.

Com tanto conteúdo, seria muita pretensão querer dizer ‘o que rolou no Web Summit 2019’. Por isso, trago um recorte do que mais me chamou a atenção.

O 5G surge como a base para o desabrochar de tecnologias e soluções como inteligência artificial, realidade virtual, realidade aumentada, internet das coisas, carros autônomos e agricultura vertical, entre tantas outras que ouvimos falar. Segundo Ronan Dunne, CEO da Verizon, o 5G não é apenas mais um “G” na escala de evolução. Parafraseou Henry Ford e disse que temos que entender que essa tecnologia “is not a faster horse”. Já Guo Ping, CEO Huawei, a classificou como “a nova eletricidade”. Seja qual for o adjetivo que usarmos, já dá para entender que a coisa é um tanto quanto revolucionária.

A internet entra de vez nas nossas vidas, extrapolando celulares e computadores, inserida no mundo como parte dele. Estará nas coisas, no ar, em nosso corpo, de forma a ter o potencial de interferir em quem nós somos como espécie. Ao mesmo tempo que esse cenário nos traz benefícios incalculáveis, se os dados que geramos ao interagir com os nossos desktops e celulares já são o recurso mais valioso do mundo, imagine quando todas as nossas reações, movimentos, sentimentos e até pensamentos forem monitorados. E a nossa privacidade, como fica?

Governos, pessoas e empresas vão ter muito trabalho para decidir o que vamos fazer com tudo isso. Tecnologia é neutra, mas esbarra em nossa vulnerabilidade. Basta olhar para as eleições em vários países e discussões como o Brexit, para ver que estamos falando de coisas menos importantes. É hora de entendermos que esses são os problemas que deveriam ser endereçados e discutidos. E que cada um tem sua parcela de responsabilidade nessa equação.

Uma nova revolução está acontecendo diante de nossos olhos e os impactos positivos e negativos decorrentes disso serão maiores ou menores, de acordo com a nossas escolhas e competência em lidarmos com esse novo mundo.

Eu, como otimista que sou, prefiro olhar com bons olhos para o futuro. Entre uma chuva e outra, o tempo bom prevalece.

Márcio Carvalho é sócio e diretor da Onze Marketing Comunicação