Organizadores do Lollapalooza são notificados pelo MPT por trabalho análogo à escravidão
Segundo denúncia, cinco pessoas atuavam carregando bebidas em jornadas de 12 horas diárias, como informou reportagem de site
A organização do Lollapalooza foi notificada pelo Ministério Público do Trabalho de São Paulo, nesta quinta-feira (23), por trabalho análogo à escravidão. A denúncia foi feita pelo site Repórter Brasil e confirmada pela comunicação do MPT-SP.
Segundo o MP, na tarde desta quinta houve a primeira audiência com as partes envolvidas e amanhã haverá outra. O órgão informou que o procurador espera formar convencimento a partir das provas e dos depoimentos para decidir o caminho da atuação.
O Lollapalooza acontece entre sexta-feira (24) e domingo (26), no autódromo de Interlagos, na zona sul de São Paulo.
Segundo a notícia, cinco pessoas trabalhavam como carregadores de bebidas em jornadas de 12 horas diárias, e eram obrigadas a dormir em tendas. Ainda de acordo com a reportagem, os profissionais atuavam na informalidade, sem registros trabalhistas.
As cinco pessoas resgatadas prestavam serviços para a Yellow Stripe, empresa terceirizada contratada pela T4F, que é proprietária do Lollapalooza. Ao Repórter Brasil, o auditor fiscal do Trabalho Rafael Brisque Neiva, que participou da operação de resgate, disse que os funcionários tinham idade entre 22 e 29 anos.
"Eles não tinham dignidade alguma, dormiam dentro de uma tenda de lona aberta e se acomodavam no chão. Não recebiam papel higiênico, colchão, equipamento de proteção, nada", afirmou.
Em nota, a T4F, responsável pela organização do Lollapalooza no Brasil, disse que encerrou a 'relação jurídica estabelecida com a Yellow Stripe e se certificou que todos os direitos dos 5 trabalhadores envolvidos fossem garantidos de acordo com as diretrizes dos auditores do Ministério do Trabalho'.
No Instagram, a Yellow Stripe informou apenas que não prestará mais serviços no festival, "sendo que, por esta razão, todos os colaboradores e prestadores de serviços alocados e contratados pela Yellow Stripe para tal não deverão comparecer ao local do evento nas datas 24, 25 e 26 de março de 2023", escreveu.
Leia abaixo a nota na íntegra do Lollapalooza:
"Para realizar um evento do tamanho do Lollapalooza Brasil, que ocupa 600 mil metros quadrados no Autódromo de Interlagos e tem a estimativa de receber um público de 100 mil pessoas por dia, o evento conta com equipes que atuam em diferentes frentes de trabalho, em departamentos que variam da comunicação a operação de alimentos e bebidas, da montagem dos palcos a limpeza do espaço e a segurança. São mais de 9 mil pessoas que trabalham diretamente no local do evento e são contratadas mais de 170 empresas prestadoras de serviços.
A T4F, responsável pela organização do Lollapalooza Brasil, tem como prioridade que todas pessoas envolvidas no evento tenham as devidas condições de trabalho garantidas e, portanto, exige que todas as empresas prestadoras de serviço façam o mesmo.
Nesta semana, durante uma fiscalização do Ministério do Trabalho no Autódromo de Interlagos, foram identificados 5 profissionais da Yellow Stripe (empresa terceirizada responsável pela operação dos bares do Lollapalooza Brasil), que, na visão dos auditores, se enquadrariam em trabalho análogo à escravidão. Os mesmos trabalharam durante 5 dias dentro do Autódromo de Interlagos e, segundo apurado pelos auditores, dormiram no local de trabalho, algo que é terminantemente proibido pela T4F.
Diante desta constatação, a T4F encerrou imediatamente a relação jurídica estabelecida com a Yellow Stripe e se certificou que todos os direitos dos 5 trabalhadores envolvidos fossem garantidos de acordo com as diretrizes dos auditores do Ministério do Trabalho. A T4F considera este um fato isolado, o repudia veementemente e seguirá com uma postura forte diante de qualquer descumprimento de regras pelas empresas terceirizadas"