Orquestra e empresa
Um dia perguntaram a Peter Drucker qual a melhor referência para uma organização verdadeiramente moderna. No ato, ele respondeu: “O protótipo da organização moderna é a orquestra sinfônica. Cada um de seus 200 músicos é um especialista de alto nível. Contudo, sozinha, a tuba não faz a música; só a orquestra pode fazê-lo. E isso só ocorre porque todos os músicos têm a mesma partitura. E todos tocam uma peça musical de cada vez”. É isso! A empresa moderna refere-se a uma orquestra.
Sob o comando ou regência de um maestro ou CEO capaz de tirar o máximo e o melhor de cada um dos músicos. Tocando, sempre, uma música de cada vez e todos seguindo a mesma partitura, mapa, planejamento. Unidade de pensamento e ação. Domingos atrás a Revista São Paulo da Folha entrevistou sete dos principais maestros da cidade de São Paulo. E cada um deles valorizou o que julgava mais importante na direção de uma orquestra. Ou, seguindo Drucker, no comando de uma empresa. Vamos conferir.
João Carlos Martins, 76, Bachiana Filarmônica Sesi SP: “Para mim cada integrante da orquestra é como uma tecla do piano. E a partitura é sagrada, mas como condutor você tem de dar sua opinião, imprimir seu estilo e personalidade”.
Isaac Karabtchevsky, 81, Orquestra Sinfônica Heliópolis: “É a respiração que dá a especialização do gesto. Sem a respiração, você tem uma bateção de compasso sem propósito”.
Claudio Cruz, 49, Orquestra Jovem do Estado: “Gosto de relacionamentos longos. Com pouco tempo não se constrói muito, tanto no âmbito pessoal quanto no profissional”.
João Maurício Galindo, 55, Orquestra Jazz Sinfônica: “Quando você sente que sua orquestra está com vontade de tocar, com energia – e não apenas pelo salário – você chegou ao topo”.
Luiz Fernando Malheiro, 58, Orquestra do Theatro São Pedro: “O fazer cantar dos instrumentos é importante e a formação do maestro deve levar isso em consideração. No fundo, tudo é canto”.
Carlos Moreno, 48, Orquestra Experimental de Repertório: “Para reger, você precisa entender que está a serviço de pessoas. Eu existo para o outro, não para mim. Essa é a crença que me faz ser um artista melhor”.
Marin Alsop, 60, Orquestra Sinfônica de São Paulo, a quem tive a felicidade e a honra de assistir regendo em janeiro deste ano, no Carnegie Hall, a Orquestra de Baltimore, na 5ª de Mahler: “No final das contas, temos uma responsabilidade é com o compositor. Como regente você é um mensageiro do compositor”.
Deu pra entender? Assim como nas melhores orquestras, nas melhores empresas, como ensina João Carlos, o que prevalece é o estilo e a personalidade que os clientes percebem, reconhecem e valorizam. Todo o capital humano da empresa respirando de forma organizada e no ritmo adequado, Isaac. Quanto mais as pessoas trabalham juntas, melhor, porque tocam por música, Claudio. Equipes empolgadas e comprometidas performam melhor, Galindo. Cada colaborador precisa “cantar” porque na vida, na música e no trabalho tudo é canto, Malheiro. Encantar o público e não a mim mesmo, Moreno. Jamais perder de vista que o profissional no comando é o mensageiro do empreendedor e visionário que decidiu dar vida a seu sonho, Alsop.
Termino com o maior dos maestros da administração moderna e do marketing, Peter Drucker: “Nem todos os maestros sabem tocar violino, mas sabem exatamente qual o desempenho esperam de todos os instrumentos e de todos os seus músicos”. Podem aplaudir!