Os efeitos da falta de profissionais de TI no mercado da comunicação
Com o avanço na digitalização, o impacto da falta de profissionais afeta o crescimento do mercado; empresas têm buscado fortalecer cultura e investem em desenvolvimento e formação
Com a dependência cada vez maior da tecnologia, o mercado global encontra uma barreira para o avanço do digital: a escassez de profissionais com formação e conhecimento nas áreas relacionadas à tecnologia da informação. Hoje, em várias áreas da economia brasileira, há relatos de “canibalização” ou “brigas fraternais”, com diversos players, inclusive internacionais, disputando talentos e buscando atraí-los seja com salários mais elevados, benefícios adicionais, entre outros benefícios.
Estudo realizado pela Softex, organização social com foco no fomento da área de TI, no ano passado, estima que a carência no setor deve ultrapassar 400 mil postos de trabalho até o final de 2022. Número que vai na contramão da falta de empregos no Brasil, que atinge 12 milhões de pessoas, de acordo com dados recentes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
E especialistas e profissionais do mercado alertam que esse problema tende a aumentar nos próximos anos. “Esse impacto não é em uma área ou outra, é geral. Nosso maior desafio não é vender, mas sim recrutar, desenvolver e reter talentos. Desta forma, além de buscar profissionais, investimos muito no desenvolvimento e treinamento dos profissionais”, afirma Tomás Trojan, COO da Cadastra, empresa de performance e comunicação digital.
Marcelo Soares, diretor de tecnologia da WMcCann, diz que, como o negócio da agência demanda agilidade e precisão para colocar projetos na rua ou implementar inovações, a carência de profissionais no mercado reflete em toda a estrutura. “Todas as áreas são impactadas, mesmo que indiretamente, pois é uma reação em cadeia”. Atualmente, 41% dos colaboradores da agência estão ligados à tecnologia, como mídia, área digital e dados, considerando estatísticos, matemáticos, engenheiros e cientistas de dados.
Esse problema pode ser percebido também pelo tempo que as empresas demoram para fechar as vagas. Na Cadastra, Trojan diz que varia entre um a dois meses, sendo que as posições de liderança demandam mais tempo. Hoje, a empresa tem cerca de 20 vagas, entre desenvolvedores, estrategistas e times de operação de tecnologias. Na martech Bornlogic, o período necessário dobra, saindo de 20 para 40 dias, em média. E na McCann fica entre 30% e 40% superior a contratações em outras áreas.
Outro indicador importante ao analisar o real impacto da situação é o turnover, geralmente elevado. Para lidar com a questão, a WMcCann definiu como processo a diversificação: conta com posições estratégicas dentro do time e um braço de apoio e execução em parceiros.
“Hoje é muito difícil ter todas as expertises dentro do time e, nessa linha, escolhemos por manter um time estratégico e com experiência, para que em sinergia com um grupo seleto de parceiros possamos realizar dependendo do tamanho da demanda”, afirma Soares.
Desenvolver cultura
As empresas também têm buscado ampliar os investimentos no desenvolvimento da chamada “cultura”, como uma forma de atrair e reter talentos. A martech Bornlogic diz que está aprimorando a relação com os colaboradores, o que, com contrapartida prática, representa a reestruturação de todos os benefícios ofertados, como aumento do Vale Refeição, melhoria no plano de saúde, adoção de benefícios como auxílio home office e auxílio educação.
“Queremos que nossos profissionais se sintam acolhidos dentro da empresa, então estamos sempre atentos às demandas que importam tanto pessoal quanto profissionalmente”, afirma Fábio Camões, head de RH da empresa. A startup também já está negociando com programas e projetos que fomentam a formação de profissionais de tecnologia.
A Cadastra também vê no engajamento dos colaboradores a saída para a resolução do problema. “Transformação e crescimento são indissociáveis, e só são possíveis quando colocamos as pessoas no centro e conectadas ao nosso propósito”, afirma Trojan. E, para isso, uma frente de atuação é a formação e desenvolvimento de profissionais. Como exemplo, o executivo cita o Digital Start, programa de estágio da companhia que ele próprio fez parte no início da carreira.
Na mesma linha, Guilherme Stefanini, CEO da Gauge e responsável pela plataforma de marketing digital do Grupo Stefanini, afirma que a companhia desenvolveu ao longo dos anos uma série de programas que auxiliam no desenvolvimento contínuo dos colaboradores e acompanham a evolução de carreira.
A formação também é apoiada pelo Instituto Stefanini, braço social do grupo, que prepara jovens para o primeiro emprego, especialmente em áreas de tecnologia. Segundo ele, esses são esforços que, no longo prazo e como um ecossistema nascido em holding nativa da tecnologia, tem feito com que as empresas não registrem impactos de “forma acentuada” na sua operação.
“Temos nos aperfeiçoado continuamente e sempre atentos aos principais movimentos e tendências de mercado, com foco em expandir os conhecimentos na área de inovação e transformação digital”, afirma Stefanini, quando questionado sobre o aguardado aumento da demanda por profissionais impulsionado por novas tecnologias e o metaverso.
De acordo com Soares, da WMcCann, tudo será tecnologia e, logo, o próprio termo como o conhecemos, “departamentalizado”, deve deixar de existir. “Todas as pessoas precisarão entender do assunto e conseguir operar, para tal estamos investindo na conscientização e educação”, complementa.
Um desafio e tanto considerando que, segundo levantamento da Brasscom (Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais), o Brasil deve precisar de 159 mil novos profissionais a cada ano até 2025, sendo que atualmente forma um pouco mais de 50 mil pessoas por ano.