Os fenômenos sociais que norteiam o consumo atual

O Observatório de Tendências, da Ipsos, lançou sua oitava onda de pesquisas nesta terça-feira (6). O estudo identificou sete grandes tendências, ou movimentos e valores sociais, que devem nortear a tomada de decisão dos clientes em relação a suas marcas e produtos. Elas indicam como acontecimentos na política, economia, cultura e sociedade impactam na hora em que o consumidor tem diante de si a decisão de comprar ou não um produto, o que afeta o planejamento estratégico da comunicação de qualquer marca.

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Empresas buscam entender fenômenos culturais, econômicos e sociais que afetam consumo

“O nosso trabalho sempre foi mapear tendências que inspiram determinados padrões para auxiliar as empresas no desafio de compreender os fenômenos culturais, econômicos e sociais da sociedade e como estes afetam o comportamento de consumo. É um trabalho muito além de identificar ‘modinhas’ ou ‘febres’. Não buscamos o efêmero, mas o que tende a ser contínuo e que mora por trás do que vemos manifestado no dia a dia”, afirma Eduardo Trevisan, gerente de Inovação da Ipsos.

O Observatório de Tendências, após integrar dados qualitativos obtidos em pesquisa bibliográfica, entrevistas em profundidade, análise semiótica, etnografia, grupos de discussão e, novidade neste ano, social listening, indica como sete tendências:

Go Embody (absorção da tecnologia no corpo e na matéria)
A tendência chamada de Go Global em estudos anteriores, mostrava como a tecnologia e a globalização ampliavam os horizontes. Nesse novo momento, a tecnologia está absorvida pelos corpos e matérias. “”E tudo isso de alguma maneira evidencia a indiscutível instauração de uma nova forma de se relacionar com a tecnologia e com o espaço: o paradigma algorítmico”, conclui diz Clotilde Perez, coordenadora do Observatório de Tendências da Ipsos.

Id Quest (Entre a fratura das redes e os novos afetos)
A tendência se sustenta na busca do indivíduo pela sua identidade e segurança em torno dela. Segundo os experts da Ipsos, nas primeiras ondas do Observatório, o olhar para o passado garantia alguma segurança e trazia sentido. Nas ondas intermediárias isso se presentificava, se diversificava e se expandia para novas áreas: pets, colecionismo e novas possibilidades espirituais. Na última onda, o grande destaque era a midiatização da identidade, com o decadismo, as selfies e a avatarização. Na onda atual, o sentido principal é o do desalento, com as redes de proteção, fraturadas, já incapazes de dar acolhimento ou segurança. “Nenhum grupo identitário, definido por gênero, aparência ou classe social, se sente plenamente reconhecido, representado e respeitado. Isso provoca o deslizamento dos afetos: das pessoas para os animais, das instituições públicas para as marcas, do que é humano e afetivamente complexo para o que é físico e tecnologicamente seguro”, afirma Clotilde.

Know your rights (normalização e conscientização do consumo)
O fundamento da tendência está no consumo e na sua relação com a existência humana e social e nas críticas decorrentes dessa centralidade. Na última edição do Observatório de Tendências, a questão humana ganhou relevância e o consumo passou a ser encarado como possível solução para a crise mundial. “A situação atual vem favorecendo o surgimento de novas e promissoras possibilidades, a partir da busca por outras lógicas de produção e consumo – resgatando valores como responsabilidade, compartilhamento, sustentabilidade, inclusão e cidadania”, diz Clotilde.

Kronos Fever (evasão do tempo presente) 
A relação do homem com o tempo vem como um desejo de fuga do agora nesta edição do Observatório de Tendências. “Como escapar do presente é a grande questão que aparece. O caminho tem sido resgatar no passado as referências para entender o presente e rever os planos para o futuro. Mas do passado ressuscitam também antigos fantasmas que nos assombram”, afirma a coordenadora do estudo.

Living well (corpo são, mente insana)
A ideia é centrada no bem-estar, na intersecção entre o corpo, a mente e o plano espiritual. Nas primeiras ondas do Observatório, esssa busca equilibrava-se na tríade “eu devo” – “eu quero” – “eu posso”. Nas últimas ondas, já no plano do “eu preciso”. “Hoje, a sensação é a de que todos os caminhos e possibilidades levam a um bem-estar do corpo concreto, da saúde física e da aparência estética – com graves prejuízos à sanidade da mente e ao equilíbrio espiritual. A midiatização da beleza e do bem-estar, a instrumentalização estética do corpo, o total descolamento entre o parecer bonito e o sentir-se bem, o crescimento do isolamento e do individualismo – tudo isso evidencia que o bem-estar pleno nunca esteve tão longe de ser alcançado. Estamos na ordem do bem-estar fragmentado, parcial, limitado. Estamos na ordem do ‘eu tentei’”, comenta a coordenado do estudo.

Maximum Exposure (o sensível espetacularizado) 
Trata da exposição que o marasmo do cotidiano sempre provocou nas pessoas. “Atualmente, estamos imersos na ruptura, vivemos a cotidianização do radical e, ao mesmo tempo, a radicalização do cotidiano”, explica Clotilde. Segundo ela, a exposição não se trata mais de romper com a rotina. Agora, todos os instantes podem ser de alguma forma extremos e disruptivos. A exposição da intimidade está banalizada. Tudo pode e deve ser divulgado, compartilhado, publicado, diz a profissional.

My way (criar e ser criado) 
A tendência My Way explora a relação do homem contemporâneo com a indústria, tanto na sua busca por individualização, que aparece nos processos de customização, como na sua própria capacidade produtiva, por exemplo, no artesanato. “Ante um mercado hiper-homogeneizado, softwares, redes e máquinas permitem uma produção individual cada vez mais interessante e que tem impactado positivamente o mercado. Tudo isso com influência direta na qualidade da produção artesanal, na criação e na distribuição de conteúdos culturais, e na valorização da criatividade e do empreendedorismo”, afirma Clotilde.