Os novos atravessadores
Como os mais velhos devem se lembrar, passamos a vida ouvindo falar mal dos atravessadores, ou, intermediários. Segundo a imprensa disseminava, e de certa forma o povão reverberava, eram os responsáveis pela “carestia”. Hoje atravessador e intermediário mudou de nome, chama-se app, isso mesmo, aplicativo, e é considerado uma dádiva dos deuses. Vem jogando todos os preços para baixo… Quando eram as pessoas que atravessavam, bandidos e criminosos; já aplicativos… Independentemente de pessoas ou aplicativos, assim segue a vida. E assim continuará por mais e muitos anos. Com todos os preços, em maior ou menos intensidade e dimensão, despencando. Lembram-se do livro premonitório e essencial de Jeremy Rifkin, Sociedade de Custo Marginal Zero? Era exatamente sobre isso que Jeremy alertava a todos. O impacto da tecnologia na vida e nos negócios. Jogando todos os preços para baixo.
O desafio, como estamos constatando agora, é que antes de a tecnologia derrubar todos os preços, começa devastando os empregos. Reduzindo-os substancialmente e provocando no curto e médio prazo uma crise social de grandes dimensões. Daí a necessidade urgente dos chamados “Colchões Sociais” para atenuar o empobrecimento provisório de parcela substancial de pessoas, até que a nova economia ganhe forma e todos voltem a prosperar. Um exemplo de queda espetacular nos preços. Uma pequena matéria no Estadão falando sobre um aplicativo, Voll, ainda cheirando a tinta, de 2018, que cria uma plataforma de transporte corporativo. E à qual já aderiram muitas e grandes empresas como Pepsico, Heineken, Telefônica, Claro, TIM, McDonald’s, Vivo, Sodexo, Souza Cruz, e já conta com mais de 100 mil usuários. E o que faz o Voll? É um atravessador do passado. Integra dezenas de aplicativos de transportes, faz as comparações, e diz, para cada usuário, qual a melhor alternativa de uso para aquele trecho específico. Faz com os aplicativos, hoje, agora, o mesmo que os aplicativos fizeram ontem com os táxis e taxistas. Lembram, bíblico: “quem com ferro fere, com ferro será ferido”. Os pagamentos são feitos pelo aplicativo, e o Voll garante uma economia de até 30% para as empresas. É isso, amigos. Começou. Ou, agora, a segunda geração de atravessadores… Já que Ubers e 99 formaram a 1ª geração…
Atravessador passou a ser queridinho e mudou de nome, app. Estávamos errados antes, ou estamos errados agora? Nem um nem outro, tempos mudam, conceitos e entendimentos evoluem. Aconteceu… Objetivamente o que está acontecendo? Que os taxistas e motoristas de aplicativos testemunham, atônitos, dia após dia, seus ganhos serem reduzidos. Um segundo e brutal avanço em suas hoje minguadas margens… Se é que ainda existem… Na primeira das duas consequências que Jeremy Rifkin nos advertia.
Antes, ou à medida que os preços despencam e as economias acontecem, o desemprego e ganhos e remunerações mergulham de cabeça para baixo. Mas adiante vai atenuar e depois melhora. Mas, e por enquanto, é o que temos para este e próximos anos. No popular, ferro sobre ferro… Será que deveríamos comemorar tanto?… Lembram da história do artista de circo e sua aranha adestrada? Que gritava para a aranha “pula, salta, dança”, e a aranha pulava, saltava e dançava. Para tornar tudo mais difícil decidiu cortar uma das pernas da aranha. E mesmo assim, mancando, a aranha continuou obedecendo as ordens. Mesmo com uma única perna desempenhava. Até que o domador decidiu cortar a última. Gritava, urrava e a aranha não saía do lugar. Desculpando-se e olhando para a plateia, disse: “Acabo de descobrir que aranhas sem pernas ficam surdas…”. Mais ou menos, o que começamos, perplexos, a testemunhar, com dezenas de atividades… Depois, melhora, mas, para muitos, depois, talvez, seja demais.
Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)