Palpites

O jogo de xadrez para veteranos em que se transformou a política brasileira e por consequência o futuro da governança do país não pode ser tratado na base de palpites.

Cada opinião de vozes que podem ser emitidas tem obrigatoriamente de justificar seus porquês, sob pena de aumentarmos o risco para todos, gregos, troianos, paulistanos e baianos.

Foi com surpresa que vimos e ouvimos o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso propugnar pela renúncia de Temer, após decisão do seu partido político de não abandonar a base do atual governo.

O falatório (de FHC e de tantos outros) mais se parece a palpites para um jogo de futebol, onde ganhando um ou outro, ou mesmo empatando, nada de muito sério ocorrerá com o país.

No caso político atual, estamos falando da manutenção de um presidente da República, que, embora ainda esteja sendo acusado de golpista (por aqueles que o elegeram), foi de vice a titular dentro das regras do jogo, ou seja, obedecidas as determinações legais.

Caso seja julgado e condenado nos mais recentes casos em que se viu envolvido, com destaque para a gravação feita pelo sujeito que nos recusamos a citar seu nome, que foi superpremiado por uma delação que fez o forte da crise retornar ao mercado, sua saída da Presidência deixa de ser mero palpite e passa a ser imperiosa por disposição legal.

O que não deve ser feito, salvo por partidários da ideologia do quanto pior, melhor, movidos que também estão por um desejo de (má) vingança, em virtude do impeachment de Dilma Rousseff (que se deu – é bom lembrar – dentro dos ditames legais e após acalorados debates nas duas casas do Parlamento), é deixar de pensar no país.

Havendo sérios motivos devidamente comprovados após o transcurso do amplo processo legal, nada a opor. Infelizmente (para o país), caminharemos para mais um impeachment. Agora, tirar Temer sob uma deposição forçada, sem o devido julgamento legal, é, isto sim, golpe.

As melhores cabeças pensantes e influentes do país devem se esforçar para que não sejamos jogados na vala comum do caos, que só beneficiará, e mesmo assim por tempo muito curto, os conhecidos pastores da desordem.

Em contrapartida, o país muito provavelmente não aguentará a reinstalação da crise, desta feita com a agravante de se fecharem os caminhos para uma nova solução democrática.

Sim, há os oportunistas que desejam esse desiderato, como os traficantes de drogas desejam cada vez mais viciados. Mas, a grande maioria da população, na frente da fila os 14 milhões de desempregados, não quer e não pode passar por isso.

O destrato proporcionado à jornalista Miriam Leitão em um voo da Avianca, dirigindo-se de Brasília para o Rio de Janeiro, é apenas uma amostra do que acontecerá ao país daqueles que aguardam com muita ansiedade por dias melhores para todos.

Aí está a Venezuela, bem perto de nós, a dizer como as coisas tenderão a ocorrer no Brasil, se a opção for por mais um jogo de futebol.

***

Já sobre o Cannes Lions 2017 podemos, sim, palpitar. Os resultados das competições já começam a sair e uma vez mais, é o nosso palpite, teremos o Brasil dentre os grandes vencedores do festival.

Quando fomos contemplados lá atrás com grandes prêmios, como o de Agência do Ano, que se repetiu outras vezes, os pessimistas de então julgaram que se tratava de uma exceção, um aguardado, porém curto, momento de brilho da publicidade nacional.

Não foi o que ocorreu depois. Cannes apenas reconhecia, de forma ampla e pela primeira vez, o que já sabíamos que poderia ocorrer daí em diante, no confronto com países que então dominavam o pódio.

Quando o sucesso é um acaso e surpreende, pode passar como um cometa. Mas quando é esperado por quem observa os competidores, isso significa uma mudança de comportamento em busca do resultado final, que veio para ficar.

Dos tempos em que éramos vaiados no mesmo festival, por apresentarmos comerciais com som sofrível (mesmo para aqueles que não entendiam a língua, quando ainda não eram dublados), aos tempos mais recentes, provocados em boa parte por jovens publicitários que não se contentavam apenas com a boa ideia, mas também com a forma de mostrá-la, fazendo estágios mundo afora parao seu aperfeiçoamento, a evolução foi enorme.

Com ela, o interesse de grandes grupos multinacionais pelas nossas agências então genuinamente nacionais, mas isso faz parte da história do próprio mundo. Não há abertura para queixas contra a globalização do empreendimento publicitário.

Basta olharmos para países próximos de nós, que resistiram a essa transformação, para entendermos que certos avanços são impossíveis de se deter.

***

Sob a curadoria de Marcos Quintela, presidente do Grupo Newcomm, foi montado pelo Grupo Doria, em parceria com o Lide, o PROPMARK e o blog do Adonis Alonso, o programa de conteúdo do 8º Fórum de Marketing Empresarial, que será realizado de 18 a 20 de agosto, no Hotel Sofitel Jequitimar Guarujá.

Mais de 300 participantes das áreas de gestão de importantes empresas do nosso mercado, dentre os quais cerca de 150 presidentes, já confirmaram presença no tradicional evento, que nesta versão abordará, em quatro painéis, os seguintes temas:

1) Novos modelos de negócios redefinindo a equação de custo-benefício e a visão de inovação; 2) Novos modelos de propaganda: quebrar padrão é o novo padrão? 3) Novos modelos de canal: o que vem depois do omnichannel. E, finalmente, 4) Novos modelos de informação e entretenimento: o consumidor está no controle.

Os organizadores do Fórum já escolheram os Ícones da Propaganda que este ano serão homenageados: Dalton Pastore, presidente da ESPM; Eduardo Fischer, presidente do grupo Fischer; e Hugo Rodrigues, presidente da Publicis no Brasil. Walter Longo, presidente da Grupo Abril, receberá homenagem especial na ocasião.

***

Este Editorial é em homenagem a Luiz Sanches, sócio e diretor-geral de criação da AlmapBBDO, um dos brasileiros mais premiados pelo Cannes Lions na soma de todas as suas edições.

Armando Ferrentini é presidente da Editora Referência, que publica o PROPMARK e as revistas Marketing e Propaganda