Pânico em Congonhas

Luis Carlos Miranda, competentíssimo publicitário de São Paulo, tem um amigo, dono de uma empresa de promoção, cujo currículo é invejável. Um dia, por conta de um lançamento imobiliário, ele praticamente parou São Paulo. O sonho de todo publicitário e todo empreendedor. Só que a multa que ele recebeu pela façanha, segundo o Miranda, tirou-lhe qualquer sensação de vitória ou sentimento de alegria.

Vejamos com calma a marcha dos acontecimentos. Sempre conforme narrado pelo Miranda, pessoa que, desde já advirto, além de maledicente, não prima pelas mais comezinha preocupação com a verdade quando se trata de contar um caso. Mas, como estou com falta de assunto, abramos o espaço para o Miranda. Aos fatos!

Esse amigo do Miranda, cujo nome parece Eduardo, era dono de uma empresa de material promocional e resolveu expandir seus negócios, importando alguns magníficos e coloridos balões cativos. Na época eram meio novidade, principalmente pelo seu tamanho descomunal, muitas vezes maiores do que os modestíssimos balõezinhos até então encontrados no Brasil.

Sujeito atirado, trouxe do exterior uma dezena desses monstros aéreos, mantidos em ereção (epa!) graças a doses maciças de gás. Nessa mesma ocasião, Miranda planejava a publicidade para um lançamento imobiliário nos arredores do aeroporto de Congonhas e estava resolvido a fazê-lo com grandeza. Vai daí que imaginou cercar com os megabalões o terreno do futuro conjunto de prédios, dando aquela imagem de festa e grande acontecimento tão excitante para os compradores.

O lançamento seria num sábado, e a operação levanta-balão foi prevista para a noite de sexta. A região seria surpreendida pela farra no local de vendas: um imenso stand com maquetes (“quase que no tamanho natural” descrevia Miranda – um exagerado), apartamentos decorados, banda de música, pipocas e o escambau. Escambau, aí incluindo os maiores balões que São Paulo já vira.

E o local do crime foi preparado durante a madrugada. Tudo estava pronto lá pelas cinco horas da manhã, até que o radar do aeroporto foi ligado, chegaram os controladores e o primeiro avião da Ponte Aérea se preparou para decolar.

Essa história se passa nos anos 1970 e a Ponte Aérea era feita por uma vetusta frota de Electras, tratados como jóias pela equipe de manutenção da Varig. Aliás, essa frota era o que sobrara no mundo daqueles magníficos aviões e durante todo o tempo que voaram na ponte jamais tiveram um único acidente com vítimas.

Pois bem, quando o primeiro avião se preparou na cabeceira da pista o comandante achou que tinha ficado louco. Numa linha reta logo após a cabeceira da pista via-se uma barreira de balões. Balões? Zepellins coloridos como uma esquadrilha invasora gay impedindo qualquer tentativa de pouso ou decolagem.

O veterano piloto do Electra, diante daquilo, esqueceu-se da fraseologia padrão e bradava nos ouvidos do operador de terra: “Controle São Paulo, controle São Paulo, que merda é essa? São Paulo tower, what porra is this? ‘Putaqueopariu’, tão querendo me matar?”

O controle se preparou para acionar a FAB, os escoteiros do ar, a Rádio Bandeirantes. Em desespero, com tudo parado no aeroporto, uma equipe foi enviada para o local do empreendimento avisando que eles tinham dois minutos para colocar os balões numa altitude decente. Ou seriam todos abatidos a tiros: os balões, os corretores e o Miranda. Em nome da segurança aérea. Foi a glória das glórias. Não vendeu um único apartamento, mas eles gravaram seus nomes no livro de ouro da história imobiliária da cidade.

Lula Vieira é publicitário, diretor da Mesa Consultoria de Comunicação, radialista, escritor, editor e professor